Currais
A pecuária vai muito bem, obrigada, aqui no país das vacas nada sagradas, de norte a sul, de leste a oeste.
O negócio prospera de vento em popa, crescendo mais e mais a cada ano!
Mas o curioso é que, se você for lá olhar mais de perto, verá que o curral é uma espelunca, a ração é pouca e ordinária, a água é pingada e poluída, vacina e demais profilaxias nem chegam perto, veterinário, então, nem pensar! A higiene -- se é que se pode chamar assim uma limpezinha por alto e muito da mal feita -- é precária e irregular. O pasto é um matinho seco e mirrado, além de tão acanhado nas dimensões que o pobre do gado se aperta feito sardinha em lata e nem pode se exercitar. E as reses menos capazes, num arroubo de crueldade por parte dos seus criadores, são colocadas pra puxar pesadas carroças, ainda que sem adestramento algum, o dia inteiro, sem descanso nem recompensa maior que umas chicotadas no lombo. As demais reses ficam ociosas o tempo todo, imersas no seu limbo estupefato e inerte, já que se contentam com a ração minguada dada como esmola.
E ainda que as cercas estejam todas desmanteladas e podres, o gado, estranhamente, não foge.
Sob semelhantes condições, como é que pode a pecuária prosperar tanto?
E quem são estes criadores cruéis e desleixados, que não cuidam do seu gado como convém?
Dizem que são os vampi... digo, os políticos -- que não seriam quem são, nem estariam onde estão, se não contassem com seus enormes, crescentes e eternos currais eleitorais abarrotados com o dócil, alienado, desvalido, estúpido, embrutecido, desinformado, desinstruído, deseducado e indolente gado humano.
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Bem disse o companheiro recantista, José Cláudio, num comentário -- nas próximas eleições, vamos eleger um outro povo.