Sempre cabe mais um

Tarde de domingo.

Na varanda, em busca de aproveitar os últimos raios de sol, a jovem senhora distraidamente folheia um livro. Jovem sim! Pois apesar das marcas do tempo em seu rosto e dos fios prateados em seus cabelos, trás no coração a alegria de poder, ainda, contemplar a beleza da vida e a passagem do tempo.

Pássaros sobrevoam o céu; pousam nos fios e nas arvores próximas; vão em busca de seus ninhos.

Crianças chegam correndo... A senhora sorri feliz ao avistar as duas meninas alegres e saltitantes, como os pássaros que voam ao longe.

Uma das meninas, sorridente, se aproxima e diz “Oi vó! Viemos brincar em seu jardim.

São primas por parte de pai. A mais velha, sua neta, está sempre por perto. Elas brincam, dançam e de tempo em tempo a neta se aproxima e pergunta “Vó, você também quer brincar?

A senhora acha graça! Responde que já é tarde; amanha talvez ela brinque.

A outra menina, com olhar observador aprecia a conversa entre avó e neta. Depois, de mãos dadas, as duas se afastam. Sentam-se no degrau próximo e baixinho conversam.

De longe, a senhora observa com curiosidade. “O que será que elas tanto conversam?”

Passa um tempo e de súbito sua neta retorna e pergunta: “Vó, explica pra ela porque você só é minha avó, se a outra avó é vó de nós duas? Minha prima não entende porque eu tenho duas avós e ela só tem uma.

Surpresa, a senhora observa o rosto serio e inocente de quem não entende o porquê dessas contradições na vida.

Com carinho, ela, a avó, tenta explicar para a pequenina, que a outra avó, mãe de seu pai já havia falecido e assim ela só tem como avó a mãe de sua mãe que é também mãe do pai de sua prima.

A esta altura, até a jovem senhora está achando difícil explicar esta confusão de parentesco; e quanto mais tenta explicar, mais o semblante da menina se anuvia. A única coisa que a pequenina entende é que sua prima tem duas avós e ela só tem uma.

Ao notar o olhar de desencanto estampado no rosto da menina, a senhora percebe que não adianta explicar. Neste momento, talvez iluminada por seu anjo da guarda, sugeri: "Não pense mais nisso. Que tal você ser também minha neta?"

O sorriso se estampa no rosto da menina enquanto balança a cabeça afirmativamente.

Tudo resolvido, as duas voltam às brincadeiras: tolas atividades para adulto, porem, muito séria para criança.

A noite começa a cair... Os pássaros já encontraram seus ninhos... O assunto, que tanto afligira a menina, agora parece esquecido.

Alguém buzina no portão.

É a mãe da menina que veio buscá-la.

Inesperadamente a pequenina volta correndo enquanto grita para mãe: “Espera mãe; tenho que despedir da minha avó!"... E num gesto simples e natural enlaça o pescoço da já agora sua avó e lhe da um beijo carinhoso.. Dizendo com voz afetiva: “Boa Noite! Vó”.

Surpresa e emocionada a senhora responde: “Vai com Deus minha neta!”

Provavelmente, naquela casa circulara mais uma neta e de quebra, mais uma filha; pois a mãe gritou lá de fora: “Quem adota uma neta tem que ficar com a mãe!”

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 29/08/2009
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