CORTINA

Ao fechar a cortina, perco a visão da paisagem, como se fechasse os olhos de minha casa, escurecendo a sala onde me recolho sem a visão do que esta lá fora. Não vejo as crianças que brincam no parque, não vejo o carteiro que passa trazendo cartas e contas.

Olho na penumbra da sala a cortina agora cerrada e penso na vida la fora, imagino o mar onde os pescadores buscam o viver, o campos arados e a colheita a ser feita, as historias ainda por serem contadas, todos a viver, com algo a fazer e na labuta de seus escritórios em atividades que imagino infindas, admiro a vida árdua, talvez ate inveje a vida fácil.

Imagino a moça que flerta com o moço, vejo este nela se chegar, a emoção que ali nasce, os planos que os dois trocam no princípio de cada toque, no resfolegar de seus corpos pulsantes, para eles não mais solidão como antes. O prazer do beijo, o sentir de cada carinho, o bebe que nasce a família que se cria.

Vejo na vida lá fora da cortina cerrada o prédio que se ergue, as pessoas que se mudam, procuram a segurança de seus lares, para o filho que estuda, a mãe que trabalha, o pai que leva a filha para o altar.

Sem a luz que a cortina fecha la fora, imagino as luzes da cidade que se ascendem, dos bares que se abrem, dos encontros dos amigos que fazem happy hours e hours sem fim, da torcida pelo jogo que passa nos telões e a paquera nos balcões. Dos assuntos vividos e mesmo dos inventados nas cantadas de quem busca o prazer, nos que ficam e nos que querem ficar, nos beijos que trocam, no infindo desejar.

Aqui dentro a cortina cerrada, não como um prenuncio do teatro de uma vida que va começar, mas no desfecho final, depois de toda a peça encenada, de todos os intervalos feitos, dos aplausos que se cessaram, acabaram os diálogos, o cenário esta silencioso, o refletor apagou, a temporada acabou, a vida cessou.

Quem sabe amanha a cortina de abre.

Guilherme Azambuja
Enviado por Guilherme Azambuja em 28/08/2009
Código do texto: T1780038
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