Cinco minutos antes, meia hora depois
PoemaPsicoTrópico
A vida só tem nexo
Quando estamos
Plexo-a-plexo
Sexo-no-sexo
E pensar que sua saliva escorreu vacilantes entre os lábios quando me viu entrar no quarto ardendo de febre. Não era doença mais séria nem calor de gripe, era só desejo. Mas me contive. Você não. É meu veneno a sua boca quando me beja assim, à luz do dia, quando me diz que a alma é pouco, quando ama tão vadia. Quando jura ser tão pouco, outro cheio que esvazia, é quando a alma foge ao corpo e me agarra feito coisa de magia.
Mas quis ser gentil. Seu olhar dizia me come e eu cheio de etiquetas à mesa. Parecia um adolescente, ainda desconhecedor de minha virilidade. Mas conhecia bem, já se apartou de mim faz tempo meus teros treze aninhos.
Hoje sou homem. Quer dizer, homem sempre fui. Mas hoje sou mais, no sentido de quem se apropria da palavra. A primeira mulher que tive, tímido tremia, era prima. Quem nunca comeu uma prima? No caso, confesso, fuicomido. Ela me devorou todinho, lambeu os dedos e cuspiu os ossinhos. Mulher má aquela, mais velha e experiente, me ensinou como se arranca gemidos.
Depois, muitas e muitas depois, aprendi aquela arte. E entendi que nem é tão difícil. São só dois corpos, dois sexos e uma porção cavalar de libido.
Falando assim parece fácil, acender um cigarro e esperar na janela que o mundo desabe em chuva. Você aí na cama suspirando. Eu aqui na janela, fumando. É como se fôssemos donos de nós mesmos, tão civilizados em nossa pose egoísta.
Eu tô sozinho de novo. Algo latejando na virilha, o pau meio duro entre as pernas. Você aí, não sei se mole, não sei se dura, se molhada ou se nua, se vestida ou escondida nos lençóis. Não sei. E me pede com o olhar? como pode querer ainda mais de mim, se o que tinha a lhe dar já dei, uma porção de mel, veneno cruel, só seu, só seu por 20 minutos.
Parece pouco. Sonhava com horas e horas à fio, como a gente vê no cinema. E sexo, no entanto...é só isso?
O EU dos trezes anos ficaria decepcionado. Mas esse Eu de vinte e dois que fuma na janela já sabe bem que o grande segredo do sexo é ver que a cabeça não cabe. Não há o doce romantismo dos livros, nem o mal-hálito das canções de amor. Há só esse cheiro de camisinha de menta. Preciso de um banho, você vai se ofender?
Não se ofenda. Só preciso me lavar. Meu analista diz que é um peso de consciência que me faz agir assim, uma culpa mal resolvida. Talvez ele tenha mesmo razão, mas porra, só preciso tirar essa menta do pinto.
Mas continuo fumando sem nem olhar pra você.
Amor é assim, guria: Cinco minutos antes e meia hora depois. Sexo é o momento de suspensão desse algo bonito que supostamente sentimos um pelo outro. Supostamente, eu digo, porque não tem como comprovar essas coisas. Ou tem?
Diz pra mim: Tem?
Tem não, eu acho. Amor se faz com os olhos. Sexo é com o corpo. E bota corpo nisso. Então, seu corpo, por falar nisso, é bem mais gostoso que a maioria dos que estiveram nessa cama. Esses peitos robustos, essas coxas roliças. Você não é feia. Não, é até bonita. Bonita demais pra mim, penso. E esse sexo precisa de camisa de força, não de vênus. É como uma fome de vampiro, um trem sem trilhos, essa nossa safadeza.
Não, como disse, você não é a primeira. E pode ser que não seja a última, tenho que dizer.
Mas foi única, se é que me entende.
E isso é o mais que posso fazer por nós dois.
Apaixonadamente seu,
Felipe Lacerda
PS: O café da manhã está na mesa. Café com leite e pão integral. Como é que você consegue comer isso?