UMA COMÉDIA HUMANA






 
A vida é simples. Uma simples questão de medida. O problema é que a medida de um não é a do outro. O mundo não veste o mesmo manequim. Há corpos de todos os tamanhos. E assim imagino pensamentos, sentimentos e valores revestidos de características absolutamente pessoais.


Por exemplo: o que defino como entusiasmo, alguém poderá interpretar como exibicionismo puro. E aqui reside um abismo de sentido: para mim, o contrário de entusiasmo é a indiferença. Para o outro, o inverso da exibição é a reserva (ou seria a modéstia?).


Sou movida a paixão. Estado de graça. E gosto da graça. No entanto, o humor é crítica. Brinco com minha vaidade. Sou humana. E muitas vezes, uma comédia humana. (Leia-se: tola, patética, ridícula...)


Para não levar a sério tantas tolices, crio personagens, ainda mais absurdos. Penso que auxiliam na medida da compreensão das minhas deficiências. Com eles aprendo a lidar comigo. E com o mundo.


A cada história descubro que a liberdade do outro imaginar o que bem entende a meu respeito, aumenta. Ele pensa o que deseja em sua própria medida.


Não posso controlar nem desejo esse controle.


O que busco ao publicar algo?


Nada além de expressar a criação do pensamento. Não acredito em monopólios da verdade, não faço coleção de respostas, nem me interesso demais por elas.


Saber perguntar me parece, literalmente, a questão.


Antes de começar um texto, não consigo escrever se não estiver mergulhada ali. E nada mais importa. As frases surgem e ainda que a cada parágrafo uma comédia de erros se desenhe, a interpretação continua livre.


O que seria de um texto sem liberdade?


Para que escrever quando se teme a censura? Seja em mim mesma ou do outro?


E por que temer o que é apenas humano?


Sou o que posso ser. E minha luta permanece: preciso vencer e superar a mim mesma. Vencer o que cala fundo, o que está fora de esquadro, o que limita demais, censura e corta.


Meus textos estarão sempre além de mim.




(*)
Imagem: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 28/08/2009
Reeditado em 28/08/2009
Código do texto: T1778889
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