O dia em que o trânsito parou e alguma coisa mudou
Hoje pela manhã, indo para o trabalho, olhando tudo em volta como é meu costume, vi uma cena que me atingiu feito flecha lançada direto no alvo.
Era um homem, bem vestido, não era andarilho sem teto não.
Dentro daquilo que rotulam como sendo “uma pessoa normal”, assim poderia ser descrito.
Mas a atitude dele, dentro da mesma perspectiva de rotulagem à qual estamos acostumados, não era “normal”.
Imagine a seguinte cena:
Um trânsito gigantesco, parado, proporcionando tempo mais do que suficiente para que você prestasse atenção em tudo, principalmente em uma cena inusitada.
Pronto, você está comigo agora, consegue ver o que eu vi, então vamos lá.
Este homem de aparência perfeitamente “normal” pára na calçada entre as duas pistas, começa a apontar para todos os carros, dizendo assim:
- Ei você! Isso você mesmo. (as pessoas olhavam automaticamente para os lados).
- O que você faria agora, se eu te contasse que tudo aquilo em que você acredita está errado?
- Se eu te provasse que todas as suas crenças, valores e perspectivas, não passassem de mera ilusão?
- Se eu te convidasse a sair deste carro e vir até aqui me dar um abraço?
....E o trânsito não andava sequer um centímetro.
Algumas pessoas começaram a fechar as janelas do carro. Alguns pedestres o chamaram de maluco.
Ao que ele disse:
- Vocês não precisam ter medo, não sou assaltante e muito menos louco!
- Sou apenas um homem querendo despertar algo que está adormecido, aí dentro de cada um de vocês.
- Já pararam para pensar quão automática foram as suas ações até agora?
- Já se perguntaram se vão voltar para suas casas no final do dia? Ou ainda, se vai haver mais um final do dia para vocês?
- Esta é a minha missão hoje. Despertar vocês.
...Nada do trânsito andar, mas as pessoas prestavam atenção no que aquele “maluco” estava dizendo, talvez até por falta de opção, afinal não tinham para onde ir!
Foi quando ele disse:
- Pra vocês, eu devo parecer louco! Eu sei disso!
- Mas querem saber de uma coisa?
- Para mim, vocês é que parecem loucos.
- E saibam, que eu sou igualzinho a todos vocês, só que hoje, quando acordei me senti tocado por uma força invisível, que me dizia: “Acorde a você e quantos mais você conseguir acordar. Tenha como meta no dia de hoje, tocar ao menos um coração. “
- Esta mesma voz me dizia:
“Mostre a pelo menos uma pessoa hoje, o quanto tudo aquilo no que ela acredita pode ser efêmero. Alerte as pessoas sobre o quanto nosso tempo é pequeno, o quanto podemos deixar de viver, de dizer e de sentir, se continuarmos presos a tantos paradigmas, a tantas convenções, a tanto medo. Diga-lhes da enorme necessidade de olhar para o outro e ver ali um irmão. Estimule-os a refletir sobre o que é realmente importante. Diga-lhes para olharem para dentro de si e descobrirem ali o Deus que habita em cada uma delas. E se, ao final do dia, você tiver conseguido tocar apenas uma dessas pessoas, tenha a certeza de que você mudou para melhor alguma coisa no universo!”
- Na hora, tenham certeza, tive a mesma reação que vocês, pensei comigo mesmo: “Devo estar ficando louco!”
Mas enquanto me arrumava para sair, fui sentindo que tudo fazia sentido, que não só eu, como todos nós, podemos de alguma forma, contribuir para que a mesmice do dia-a-dia não nos domine. Então comecei a pensar em como eu poderia tocar ao menos uma pessoa hoje, da forma como eu tinha sido tocado...e, ao ver este trânsito totalmente parado, decidi antes de tirar meu carro da garagem, eu moro ali naquela esquina (e apontou o local, que ficava a menos de três metros de onde ele estava), vir até aqui e falar com vocês.
- Antes disso, parei na cozinha de casa, olhei para minha mulher e meus filhos e lhes disse o quanto eu os amo. Peguei as chaves do carro, a pasta e sai. E agora eis me aqui sem nenhuma preocupação em saber se você ou você me acha louco, apenas com uma vontade imensa de dizer para todos, não que ouçam as minhas palavras, mas que as sintam. E, ao fazer isto, se você se sentir tocado, apenas faça o mesmo com mais uma pessoa.
- Um ótimo dia a todos vocês, fiquem com Deus!
E dizendo isto, atravessou a rua, dirigiu-se ao local que tinha apontado como sendo sua casa, abriu o portão, tirou o carro da garagem e como todos nós, ficou ali parado naquele trânsito que teimava em não andar.
Ainda demorou uns dez minutos até que o caminhão quebrado lá na frente fosse removido do meio da rua e o trânsito finalmente começasse a fluir.
Não sei quanto aos outros, mas a mim aquela cena tocou profundamente... nos dez minutos que fiquei esperando o trânsito voltar a fluir outra vez. Eu só conseguia ter um pensamento...o de que Deus utiliza os jeitos mais estranhos pra falar com a gente e se fazer ouvir.
Chegando ao trabalho, contei a o que tinha experimentado no meu caminho; algumas pessoas acharam o fato engraçado e disseram que o cara era doido de pedra, outras nada disseram, mas em algumas, pude perceber que sentiram como eu, algo mágico em tudo aquilo.
Gostaria de ter tido a oportunidade de dizer àquele homem, o quanto as suas palavras me tocaram!