Você quis dizer...
Você quis dizer uma casa laranja, sem endereço, perto de uma igreja de tijolo. Quis dizer que um novo teto haveria de surpreender. Que era um grão de areia no infinito, todavia reto, simples, estudado. Quis dizer que odiava os sórdidos, diferente dos libertinos. Quis dizer que era calmo, sincero, bom e de lua para o amor. Quis oferecer uma vida e mais, tanto que quis dizer o quanto era sem espelho, sem carro, sem telefone. Apenas com casinha lá na Marambaia. Casa laranja, de adobe para o tipo flexível, tranqüilo, ribeirinho, sem tradições, nascido no norte, criado no sul.
Quis dizer que havia engano, que não era ele, que não podia ser. Que vivia bem com o seu bem. Que o amor era meigo, ajardinado, com flores ricas e nítidas.
Quis avançar sobre a tarde, mas ouviu um riso. Viu que era a felicidade e se abraçou nela. Aproximou-se da terrena fonte de lembrança sem nenhum dano. Largou presunção, fronteiras, rios, mares. Quis dominar a felicidade e ela lhe deixou um certo perfume fluindo encantamento, generosidade espontânea, além de um grande medo como alarme obtuso. Espanto de que tudo pode se perder nos escombros sombrios dessas inflexíveis certezas.
Quis dizer no silêncio do seu navio (ainda guiado por estrelas) vagando ilusões do gênio, que era do mundo gaiato, livre, querendo dizer, sem juízo...