Noite de chuva em São Paulo

Dia de calor intenso. A previsão é de tempo nublado e uma temperatura de 30 graus. Temporal à vista. Defesa Civil e bombeiros em alerta. Saio apressada do mercado, como quase todas as pessoas. São exatamente oito horas da noite e quero chegar em casa antes que chova. Ao longe já se houve o som rouco dos trovões. O som cada vez mais próximo e os raios já são visíveis . Nove horas em ponto. Começa a contenda. Os raios riscam o espaço como querendo fuzilar o inimigo invisível. Na Terra explodindo o ribombar dos trovões, como um brado de defesa contra o inimigo que está atacando. Duelo de gigantes . Espaço e terra se enfrentando numa luta insana. É uma luta que vem desde os primórdios dos tempos, que fere, que mata.

Logo as nuvens se revoltam e soltam a chuva para acalmar a fúria dos dois contendores. Mas a sua intervenção benéfica de um lado é entretanto devastadora de outro. A chuva acalma a fúria dos raios e cala os protesto da Terra, mas vai inundando tudo e juntamente com seu aliado, o vento, vão causando a maior devastação. São aliados contra os raios e trovões. Contra o espaço e terra, porém causam maior estrago do que os antagonistas. Derrubam árvores, desbarrancam morros, inundam as ruas e arrastam tudo o que encontram em sua frente e seguem noite adentro, até que cansados amainam aos poucos e se esvaem. É hora de calcular os prejuízos matérias. É hora de recolher os mortos, amparar os desabrigados, e ninguém esquece a noite de chuva em São Paulo. Não esquece porque ela sempre se repete e cada vez a natureza castiga essa linda, porém selvagem megalópole.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 27/08/2009
Código do texto: T1777993
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