ELA PERDEU A CABEÇA!!!
Pare um minuto. Olhe a imagem que ilustra esta crônica.
A voz da minha imaginação sussurra:
- Hei! Dona Escritora! Ninguém merece! Basta o fracasso retumbante da série "Piada com legenda"!
- Nem me fale, mas essa escultura parece falar!
- Santa Luci.. dez! A escultura perde a cabeça e a mulher vai no embalo!
- Não me canso de olhá-la! Parece seguir em direção a algo glorioso!
- Desce do pedestal, Dona Escritora! E comece logo essa crônica!
- Vou tentar...
Imagino a beleza contida em um bloco de mármore. Esculpi-lo exige que várias partes deste objeto sejam desprezadas. A cada golpe na pedra, lascas se perdem em meio ao ar repleto de partículas. Os pedaços lançados desenham uma trajetória no espaço. Neste ofício, o que é perdido parece ter a função de abrir caminho.
E a pedra vira arte: ganha vida.
Suponho que um escultor esteja à procura de algo tão intenso que se faça palpável. As mãos que cortam a pedra são as mesmas que trazem à tona sua maior beleza. A escultura revela em seus cortes um novo contorno. Quando você esculpe, corta. E quando escolhe? Não há o corte?
Deve ser fascinante conceber a idéia que se alojará no corpo concreto. Algo que surge do plano etéreo da inspiração. Talvez, da mais remota fantasia. Entranhas da ânsia inexplicável em palavras, adquire forma e passa a existir na realidade.
Viver não é preciso. O poeta já disse. No entanto é preciso existir! E para que a existência esculpida se faça, quantos golpes serão necessários?
Muito antes de começar a escrever esta crônica, contemplava a imagem da "Vitória de Samotrácia". Quando a vi, pela primeira vez, senti o paradoxo da beleza contrastar a ausência. A cabeça perdida e ainda assim (ou até mais por isso), exala movimento e sentido. Tem alma.
Olho mais uma vez. E penso nas lacunas da vida.
Quero a alma escultora (há uma escritora?) capaz de lançar nova luz à minha existência.
E só assim, cortar tanto fará sentido.
(*) Imagem: Google
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