O TEMPO

Estava sentada na mesa...

Pensativa, preocupada, concentrada em meus problemas...

Mas de repente, meus olhos começaram a passear ao redor de mim.

Pela primeira vez tive tempo de parar um pouco e observei.

Aquelas pessoas, comendo e conversando, todos apressados

Escravos do tempo, aprisionados a dois ponteiros que correm

De encontro as nossas decisões, onde um segundo nunca mais voltará,

Poderá mudar nossas vidas, nossos destinos e a todos que nos rodeiam.

Vejo um rosto conhecido, afinal, mesmo sem nos conhecermos,

Encontramos-nos quase todos os dias aqui ou nas ruas próximas.

Começo a investigar os rostos...

Primeiro vejo um rapaz, com brinco, corte de cabelo moderno todo arrepiado...

A juventude a flor da pele, tudo é muito impetuoso, nada pode esperar...

Tem muita pressa, tudo para eles é muito intenso, forte, como se fosse o seu ultimo momento...

AH! A juventude... Não sabem que o tempo voa e chega muito rápido a terceira idade...

Ao seu lado um senhor, uns fios grisalhos, alguns sinais marcam seu rosto,

Muito centrado na conversa dos amigos de mesa, noto que é o mais velho,

É também o que mais fala e ri... Chega ate gesticular as próprias palavras.

Imagino-o em sua casa, sempre muito cansado, mal humorado, não tem assunto

E muito menos graça... Os filhos apenas para “enfeitarem” a casa...

Todos aqueles conselhos que ensina aos seus colegas, para os filhos não têm o que ensinar.

De repente entra uma moça, todos olham, um piscar de olho e um silencio rápido,

Chama a atenção uma blusa toda brilhante e transparente, micro saia,

Onde podemos ate ler seus pensamentos...

Ela se achando o máximo, se ela queria chamar a atenção ela conseguiu...

Imagino-a na empresa, para esconder a incompetência mostra sua vulgaridade...

Lamento, afinal, uma moça bonita deve ter alguma inteligência para ser reconhecida.

Ao meu lado outra moça, com seu belíssimo traje, cabelos longos, muito bem cuidados,

Unhas bem feita, apenas acompanhada por uma amiga, onde as duas conversam falando baixo muito discretas e chamando a atenção das pessoas que lá se encontravam

Mulheres bem sucedidas, elegantes, inteligentes, independentes.

Imagino a que tem mais idade em sua casa.

Querendo ser uma super mãe, super esposa, super dona de casa... Super tudo...

Impossível pra qualquer ser humano, assim se sente frustrada,

Realizada profissional, mas um complexo de culpa incrível e enorme

Por não conseguir acompanhar os filhos como gostaria,

Esquece-se que o mais importante é a qualidade de sua companhia, mas está tão preocupada em ser super que não faz o principal ser mãe, aproveitando os momentos, como uma mulher bem sucedida, mas um ser humano normal, cheia de defeitos, falhas também.

Olho para a proprietária do restaurante, do caixa fica observando se tudo está em ordem.

Deve também estar pensando em seu lar, será que os filhos almoçaram?

Será que eles já foram para a escola? Será? Será? E mais outros tantos será que pensamos quando estamos fora de casa, longe de nossos filhos.

Observo também os garçons:

São quatro cada um trabalha de um jeito e uma forma,

O primeiro vem todo sorridente à mesa do cliente, anota o pedido e já encaminha a cozinha

Voltando rapidamente para outra mesa.

O segundo está ali como se estivesse de férias, apenas observando o movimento

O cliente tem que chamá-lo para ser atendido, ele todo fechado, como se todos tivessem culpa de seus problemas, anota o pedido, e vai passeando levar a cozinha

O terceiro é uma figura, eu sempre procuro sentar em mesa que não seja ele o garçom...

Todos são seus amigos, faz uma festa, e começa a falar sem parar, toda sua vida particular acabamos conhecendo, e sempre chegamos atrasados na empresa...

Nos primeiros dias é ótimo nos sentimos em casa, mas todos os dias?

Ouvirmos a mesma historia, e cada dia ele se empolga mais...

Para mim ele não poderia ser garçom, ele deveria estar em um palco.

O quarto é um senhor de bigode falando com sotaque de português, sempre muito educado, prestativo, mas nunca perde a posse de garçom, me parece que tem orgulho dessa belíssima profissão. Procuro sempre sentar para ser atendida por ele.

Dou mais uma olhada em geral, cada um com problema, cada um sabendo encará-los

De forma diferente, bem do seu jeito em ver a vida.

Todos com pressa para voltar ao serviço, as suas responsabilidades,

O horário de almoço é muito curto,

Levo um susto, horário de almoço?!

Nossa o meu falta segundos, afinal sou também uma prisioneira do relógio

Me desperto para a realidade e tenho certeza que o pensamento é pura energia

Afinal, vasculhei a vida de todos que estavam ali e uns estive ate na casa,

Refleti sobre minha própria vida...

E toda essa fantástica viagem levou apenas uns segundos.

Sempre temos alguém observando, inclusive a nós...

Autora (Cyda Ferraz)

Cyda Rigamonti
Enviado por Cyda Rigamonti em 26/08/2009
Reeditado em 27/08/2009
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