O canário
Quando eu era criança o meu pai possuía um lindo canário , amarelinho. Para ele, era mais que um canário, era um companheiro . Eu adorava ouvi-lo cantar, mas o canarinho, por sua vez, não gostava da gaiola.
Descobri que o seu canto ,que eu tanto admirava, não era jubilo pela vida ,ao contrário era um extravasamento da dor que sentia na torturante prisão .
Um dia resolvi soltá-lo. Abri a porta e peguei-o nas mãos. Ele olhava para mim encantado, confiante dos meus cuidados e eu quase nem acreditava que estava afagando suas lindas penas amarelas. Entendi que a partir dali ele jamais voltaria à gaiola.Arrumei com isso uma baita confusão em casa. Fui severamente repreendida, mas não trocaria a experiência de tê-lo em minhas mãos naquele momento mágico , por nada nesse mundo.
Durante os poucos instantes que o canário esteve comigo , trocamos confidências, fizemos planos. Planejávamos fugir juntos e conhecer o mundo. Foi lindo!
Mas ele queria liberdade, voar alto, bem longe e isso eu não poderia fazer . Ele foi em busca do seu sonho, não sem antes confortar o meu coração , prometeu voltar sempre e não me decepcionou.Quando eu menos espero ele aparece na minha janela cantarolando uma canção para alegrar o meu dia.
O canário foi o meu primeiro namorado. É livre, mas me ama e por isso sempre volta para me visitar.