RÓTULOS !

 

     Na semana passada, acompanhando a patroa a um supermercado e para evitar o perigoso fluxo de carrinhos de compra que transitavam pelos corredores, preferi ficar estacionado na ala das bebidas e minha atenção foi direcionada , quase que de forma magnética para a prateleira dos vinhos.

     Ao invés de comprar o mesmo que habitualmente  compro, escolhi uma outra garrafa de vinho tinto, simplesmente porque fiquei encantado, atraído e impressionado com o rótulo.

     Não sou um especialista em vinhos mas apenas um modesto apreciador e, num dos últimos jantares resolvi abrir aquela garrafa , cujo rótulo me dava a impressão de que brilhava no escuro, quer dizer, um incrível rótulo que me despertou a curiosidade em provar seu conteúdo.

     Jantar servido, cálice habitual e, decepção das decepções, o tal vinho era uma bela porcaria, que nem gosto de vinagre tinha.

      Para não dizerem que  sou exigente e dando asas a minha inocência comecei a imaginar que o problema talvez fosse daquela garrafa, que aliás estava no prazo de validade.

     Dia seguinte voltei ao supermercado e comprei nova  garrafa   e o mesmo rótulo chamativo estava lá. Em casa, nem esperei a hora do jantar , fui logo abrindo a garrafa e experimentei o tal vinho, que até tinha uma cor bem firme.

    E a decepção se repetiu, quer dizer, provei do mesmo gosto horroroso que tinha experimentado na outra garrafa.

    Ainda amargando o gosto do vinho chamativo e de uma grande decepção, misturada a uma enorme frustração, não tive duvida e recorri ao meu velho estoque de vinhos, daqueles que sempre compro, estes sim, suaves, saborosos e autênticos.

    Após o jantar, enquanto estava na minha sala só com a luz do abajur acesa, comecei a refletir sobre rótulos e logo me lembrei da forma como as pessoas, a grande maioria delas utiliza tais artifícios.

    Por exemplo, estou cansado de ver mulheres tão artificialmente adornadas, respirando aquele ar de falsete e insegurança que me pergunto como essas mesmas mulheres seriam quando acordassem pela manhã, antes de escovar os dentes e pentear os cabelos ou simplesmente qual seria sua verdadeira aparência quando saem do banho.

     Esta é mais uma oportunidade  para deixar bem claro que não sou contra pessoas que gostam de cuidar da aparência, que são cheirosas e andam bem vestidas. Mas, uma pergunta que  me incomoda é : por que então não são mais naturais, mais espontâneas e , porque não dizer, mais sinceras consigo mesmas ?

    Continuando minha divagação, deixei o pensamento livre e solto para relembrar fatos e situações em que pessoas, homens e mulheres, são julgados e avaliados só pela aparência. É muito comum, darmos um valor maior a quem está bem vestido e, instintivamente diminuir o conceito sobre aqueles que estão vestidos mais modestamente.

     Mas nesses casos, assim como aconteceu comigo no episódio do vinho, não estaríamos sendo induzidos só pelos rótulos ?

     Lembro-me de quando comprei meu segundo carro. Eu tinha recebido uma boa indenização e juntando a algumas economias tinha o suficiente para comprar um carro à vista .

    Num belo sábado de sol fui com meu filho a uma concessionária para comprar o carro dos meus sonhos, uma Brasília quase zero quilômetros, que era a coqueluche da época.

    Meu filho ainda era bem pequeno e eu, sem me preocupar muito com a minha aparência fui de calça jeans, uma camisa de malha e tênis. O vendedor que me recebeu, antes mesmo que eu tivesse a chance de explicar o que queria, me olhando de cima em baixo, me disse grosseiramente que os carros mais antigos ficavam nos fundos da loja e que, no momento não tinha ninguém para me atender.

    Respirei fundo, olhei para os os lados e fui me dirigi a porta que estava com uma placa bem grande escrito “GERÊNCIA” e fui recebido por um senhor grisalho que educadamente me perguntou se poderia me ajudar em alguma coisa. Respondi que queria comprar um carro à vista.

    A fisionomia do homem mudou, seus olhos começaram a brilhar e rapidamente se levantou e chamou um vendedor, coincidentemente o mesmo me que atendera na recepção.

    Quando ele me viu abriu um largo sorriso e perguntou se eu não aceitaria um cafezinho ou uma água gelada. Esperei alguns segundos e respondi, com toda a tranquilidade que me caracteriza que queria comprar um carro com pagamento à vista mas que fazia questão que outro vendedor me atendesse.

    Os dois homens não entenderam o que quis dizer e eu repeti que, ou me mandavam outro vendedor ou eu iria procurar outra concessionária.

     O resumo da história é que ouvi milhões de desculpas, ganhei um bom desconto e acabei comprando o carro vendido pelo próprio gerente.

     Este é apenas um triste exemplo de que, por sermos humanos e termos visão muito curta, quase míope , cometemos graves equívocos comprando coisas, ideias e julgando as pessoas por um simples rótulo.....

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 26/08/2009
Reeditado em 18/02/2013
Código do texto: T1775889
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