AQUI JAZZ

Solenemente informo: acabou. Ontem te enterrei, finalmente, sem as mãos postas para fora. Rezei uma oração para sua alma, derrubei umas lágrimas do passado e pensei em tudo de bom que você deixou no legado de minha história. Mas então você se foi.

Ouvi nossa canção pelo rádio e senti uma homenagem póstuma. Lembrei suas palavras antigas, li suas poesias, vi suas fotos e num gesto de nostalgia, peguei um bilhete de teatro do primeiro passeio que fizemos. Anotei seus códigos e os meus, refiz nosso percurso e observei nossos sonhos. Guardei tudo numa caixa simples e bela. Até mesmo um livro de poesias de Pessoa. Enterrei junto de você.

Fim. O fim poderia ter sido antes, mas era cedo demais para que eu entendesse. Eu queria mais, sempre quis, sempre quis além de tudo o que sempre tive. Estou toda arranhada, permiti. Deixei meu coração ficar bem esfarrapado, mas ainda dá para costurar. Aprendi a dar pontos de bordado e posso reescrever nele as palavras e histórias perdidas em você.

Mas uma hora os aparelhos são desligados e aquele fiapo de esperança se torna apenas memória. Não cabe mais decepção, nem implorar uma chance de consertar o que se fez de errado, nem voltar ao tempo e pisar no caminho certo e pré-escrito. Não há perdão. Só a morte. O fim, o fiapo de coração desalinhado e a secura dos olhos cansados de chorar e agora tão obliquos.

De frente para o vento, deixando ele bater e levar teu pó.

“Voa com as lembranças”.

Agora só resta colar mais essa página do meu livro de memórias, porque história de amor não se consegue arrancar as páginas.

Só não sei como se tira da pele o teu cheiro. Nem com esponja, nem com sal. Nem com soluções.