SEM FOLEGO

Bati tanto com a cabeça que rasgou um pedaço da pele. O fiapo de sangue já começa a escorrer e incomoda minha visão. Antes disso, meus olhos já embaçavam. Estou tão tonta que erro até os passos mais simples. Nem consigo mais esbravejar. Mas o que irrita é o arfante nó no peito, o embrulho no estomago e a vontade de não existir.

Errei.

Precisava ser normal, ter uma vida norma, pensar normal. Esse sufoco já bastou, agora transborda. Que pecado cometi? Dura e queimada nas artimanhas do inferno, estou de joelhos entregue a culpa.

Bicho suicida. Eu sou um bicho suicida. Quero pular do alto do prédio mais alto. Quero flanar pelas suas janelas abertas e sorrir para as pessoas normais, na hora que escovam os dentes, quem esmurram as crianças, que almoçam, que jogam cinzas de cigarro no carpete, que limpam as mãos sujas de doce na roupa, que falam dos outros vizinhos, que tem dor de barriga e, mesmo reclamando entre os corredores sobre o emprego abominável, o colega falso, o homem ignorante e a mulher frigida: sorriem.

Deve ser por isso que minha cabeça está cortada, meu estomago ardendo, minha vida desgovernada no enguiço dos meus atropelos. Eu preciso sorrir, apenas sorrir. Assim, passa, disfarça, parece menor.

Não estou vendo mais nada. Tem sol na fresta aberta da porta. Mas meus dentes se destacam na luminosidade.