Imenso Brasil

Nestes três últimos dias, estive vendo e convivendo com a exuberância das paragens de Porto Velho em Rondônia.

Tão distante de tudo. A três dias de viagem, que não aérea, de qualquer outra cidade de maior expressão. As distâncias são enormes. Viajando de barco até Itacoatiara, a 1.100 km de distância descendo o Rio Madeira, se pode levar três dias ou mais, a depender da época do ano. Fico a imaginar como os desbravadores de outras épocas fizeram esse percurso até Manaus e Belém, nos idos dos anos 1.600.

Como conseguiram manter esse lugar como território brasileiro, antes Guaporé, agora Rondônia.

Também ontem pude constatar a transformação de que o homem é capaz. Visitei as obras de construção da Usina Hidrelétrica de Jirau.

Registrei com fotos e filmes o movimento das obras no local, o desvio do rio, a construção das ensecaderias, a derrubada das árvores, contstrução de acampamento operário, estruturação das estradas internas da obra, tudo imenso.

É impressionante tudo aquilo, a interferência do homem na natureza e de tal magnitude, que se torna impossível deter a besta.

Mas, entendo que esse impacto, não é porque o local, que ficou aqui por milhares de anos, o quer. E sim porque o querem outros rincões desse meu imenso país. É a necessidade de energia, para mover o progresso do país em outras paragens distante dessa imensa natureza, que empurra o homem a desenvolver outras formas de suprimento. Ainda assim, uma energia limpa, mas que ajuda a aquecer o globo, depois de transportada para o Sudeste. Assim, vamos contribuindo a passos largos para as mudanças climáticas, cuja naureza se vinga do ímpio homem, destruidor do seu próprio habitat.

As imensas árvores, tombadas, derrotadas, sobrepujadas, serradas e arrastadas mortas, os montes enormes de madeiras, a mostrar aos céus a devastação. Estavam alí majestosas, agora chora a natureza, chora mais o Rio Madeira, no sacrifício a que é submetido, para dar vazão às necessidades dos Kwh de uma outra imensa população, que mal sabem dessa energia fazer uso equilibrado.

Acho que, a obsessão de conseguir o chamado crescimento econômico, faz com que pouco também se importem com os traços de civilizações pré-colombianas que também jazem esquecidos aquilo que há muito tempo foram registrados nas pedras do local, antes submersas, onde será implantada a usina.

Por certo choram também os espíritos que perambulam pelo colossal rio, pela imensidão das matas, pelos igarapés, e porque não, embuçados nos corações dos ribeirinhos e índios, que desde há muito conviviam com a natureza, isso sim com “sustentabilidade” no estrito senso do que essa palavra hoje significa.

Assim, também, eu, com o coração lá na minha ancestralidade, choro a me despedir mais uma vez de Porto Velho, triste porque, em outros tempos também vi devorarem a natureza do meu Rio Paranapanema, tão distante daqui.

A natureza paciente espera o dia no qual o homem descobrirá que não há mais retorno, e essa espécie destruidora, estará fadada à sua auto-extinção, dada a aplicação dessa força descomunal e insana na caminhada destino a uma era, onde energia, de qualquer que seja sua fonte, não mais será necessária.

Então, a paciente natureza, sorrindo e se recompondo, terá à frente, seus novos milhões de anos, para existir e se perpetuar, sem a presença do fatídico e dito ser inteligente.

Assim, nesse novo porvir, podemos invejar os outros seres que por aqui sim, continuarão sua caminhada, sem essa inteligência destruidora, e podemos imaginar, o quão bestial foram e que grande oportunidade lhes havia dado o Criador.

Perdão Senhor por ser empurrado para essa hecatombe, e de certa forma, contribuir, direta e indiretamente, para tamanha bestialidade.

Porto Velho, 26 de agosto de 2.009.

11:00hs

(escrito em poucos minutos antes de meu voo de retorno à São Paulo)

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 26/08/2009
Reeditado em 06/09/2009
Código do texto: T1775484
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