UMA HISTÓRIA EM QUARENTA E QUATRO MINUTOS
O avião decolou às 16h00, em direção ao Rio de Janeiro. Impaciente, olhei o relógio. Confesso, não gosto de estar literalmente nas nuvens. Ao meu lado, o homem puxa conversa:
- Essa viagem passa mesmo voando! Vai a passeio ou trabalho?
Provavelmente, ele imaginou uma conversa amena, mas disse a verdade:
- É uma viagem de mudança. Vou morar lá. Meu casamento será em dois dias. Aliás, segundo casamento! E acho que estou mais nervosa nesse!
Surpreso com a resposta, o homem escutou toda história, àquela altura, exacerbada pelo medo de voar. Ou seria medo do que a vida reservaria ao desembarcar em outro capítulo? Tantos projetos ocupando o espaço do que havia sido construído. Meu novo sonho seria possível?
Atento, sem exibir nenhum sinal de tédio ou falta de opção em uma aeronave lotada, ele acompanhou a turbulência das minhas aflições.
Ao lado de um estranho, compartilhei temores diante de tantas mudanças: deixar para trás minha família, amigos, trabalho e São Paulo (Sampa para os íntimos). O que seria minha vida depois daquela aterrissagem?
O avião tocou o solo, numa manobra perfeita do piloto, às 16h44. E então, após quarenta e quatro minutos de solidariedade, ele disse:
- A vida é isso: muitas turbulências e alguns belos pousos como este.
(*) Imagem: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net