AEDO CIBERNÉTICO* - ACALANTO
Diz o Chico Buarque que nós “herdamos do sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo” (Fado Tropical). E os baianos foram os primeiros a receber esses genes e os espalharam depois pelo Brasil. Aí, o Dorival Caymmi, quando nasceu a sua primeira filha, a Nana, compôs essa música para lhe embalar nas noites de insônia, de choro e de vontade de uma mamadeirazinha.
Meu regime de trabalho era de revezamento em turnos noturnos, diurnos e vespertinos. Quando nasceu a Maíra, eu tinha dentro das 24 horas do dia, horário para trabalhar à vontade, enfim. Costumava chegar de manhã para dormir, e ela, lépida, fagueira e ligeira, chegava ao meu quarto para brincar. Aí, tinha que fazê-la dormir comigo, caso quisesse descansar para uma nova jornada mais tarde ou no outro dia. Fui descobrindo umas musiquinhas que lhe acalmavam momentaneamente o fogo. Meu relativo sucesso era com ACALANTO. Nos primeiros minutos, ficava como uma tocha, os olhinhos acesos, prestando uma atenção danada, feito coruja. Depois ia se acalmando até adormecer em meus braços, ou a gente junto deitados no meio das almofadas no chão da sala, cada um dormindo um soninho bom.
ACALANTO – DORIVAL CAYMMI
É tão tarde, a manhã já vem
Todos dormem, a noite também
Só eu velo por você, meu bem
Dorme anjo , o boi pega neném
Lá no céu deixam de cantar
Os anjinhos foram se deitar
Mamãezinha precisa descansar
Dorme anjo, papai vai lhe ninar
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta
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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.