"Quem chora pra não perder, quando perde chorou duas vezes"
Eu bem que gostaria de entender a dinâmica do ciúme. Me sinto até um pouco deficiente, já que não sinto ciúmes de nada, nem de ninguém.
- Você é uma pessoa esquisita! - define o T-Rex taxativo.
Convivo com ciumentos, passo maus pedaços com eles, sem entender bem o que os move. Percebo, consternada, que eles se ressentem de eu não ser ciumenta. Fazer o quê?
Não entendo a lógica da coisa toda, o mecanismo que faz funcionar esse negócio. É amor?
Mas, que eu saiba o amor liberta. Não entendo o amor como posse...acho que na outra vida fui escrava, pois me lembro bem da sensação de ser "possuída" por alguém. Lógico, eu sou de quem me ama, em diferentes graus. Fui neta, sou filha, irmã, mãe, tia, sobrinha, amiga; sou mulher. Amo a todos os que convivem comigo, procuro atender as suas necessidades - se bem que a recíproca às vezes não é verdadeira - e dar a estas pessoas o melhor de mim. Mas, não lhes exijo "devoção".
Coisa mais cabulosa, isso de "devoção"!!..Larga do meu pé, chulé!
Conviver não é "possuir". Tem gente que se agarra ao outro como se fosse um osso, ou a táboa de salvação, ou a bóia, ou a corda, ou a caçamba...sei lá...isso implica num egoísmo tremendo.
Conheço casais que vivem se odiando, ao invés de se amarem, por que um não pode viver sem o outro e o outro já está farto de o um viver "pendurado" em seu pescoço, sufocando.
Ciúme sufoca!
Aí me dizem (ou eu percebo nos pensamentos), numa lógica argumentativa no mínimo insana:
- Ah! Se eu não colar, fulano (seja lá quem for o indigitado) me esquece.
Pode ser que fulano (seja lá quem for) esteja desesperado por esquecer. Por mandar você e seu amor grudento e choromingas às favas.
Ciúme rouba a dignidade!
Vejo casais que, quando saem de casa, estragam qualquer programa, por que o ciúme, de um, do outro ou de ambos, cria um clima péssimo. Discute em casa, lava a roupa suja em casa! Eu, e nem ninguém num raio de quilômetros, tem nada a ver com o olho besta ou a mão boba do seu acompanhante. Se sabe que ele ou ela é assim, por que desgraça sai de casa? Porque mora ou é casado ou casada com ele ou ela? Se ele ou ela são traidores notórios, valerá a pena gastar tempo e latim com tal criatura? Cansa!
Ciúmes negam a inteligência!
Nunca ouvi falar de alguém que não traísse (se for mesmo traidor) por causa dos ciúmes do companheiro. Acredito firmemente que até serve de motivação.
Há sempre um sádico querendo ver um ciumento dando o maior show, há sempre quem se divirta com o rídiculo a que a pessoa se impõe. Eu acho triste e patético. Não acho graça nenhuma, me retiro do ambiente. Há inclusive tarados que se excitam com a ciumeira que provocam e traem para sentir o gostinho do fel que espalham.
Não entendo ciúmes, nem ciumentos, não sofro dessa doença que rouba tudo da pessoa, do sono à dignidade. Meu marido vive a vinte e dois anos comigo, é um homem bonito e livre. Sofrerei certamente se ele me trair ou me abandonar, mas ninguém vai me ver na rua dando espetáculo. Dependendo da traição eu até perdoo, dependendo da traição eu mando passear. E ele pode, é claro fazer o mesmo. Mas, é ciumento, controlado, mas ciumento. Besta ele, eu nem ligo! E não permito também essas maluquices comigo: - Vá ter ciúme do gato, se quiser, de mim não! Tô fora! Ele se controla bem, nem parece que é ciumento.
O ciúme compromete a liberdade!
Sou livre. Não nasci agarrada com ninguém, minha vida não depende de ninguém, minha felicidade está em minhas mãos e quem está comigo está por que deseja. Se estamos juntos é por que ambos concordamos que isso é bom. Se um dia não for, reestruturemos nossas vidas e sejamos amigos, com dignidade, a final nos conhecemos muito bem.
Sofrer e chorar as perdas faz parte da vida, mas não vou chorar para não perder, por que é burrice.
"Quem chora pra não perder, quando perde chorou duas vezes", lógica irrepreensível de minha avó.
O T-Rex me lembra do episódio em que eu botei a perna pra uma fulaninha, muito inxirida, levar um "baque" (como se diz aqui) num carnaval antigo, visto que a mesma insistia em "se esfregar" no meu marido a toda hora. Ele pergunta se isso não é ciúmes.
Respondo: É não visse? Primeiro que ninguém viu que eu botei a perna, depois aquilo já estava me enchendo a paciência e outra, meu marido não estava nem olhando pra ela. Se ele estivesse olhando, eu teria ido me sentar, pegava meus pertences e ia pra casa...ou para outro baile, quem sabe?...mas, ele não estava olhando, nem dando trela. Dai se vê que é muito, mas, muito, diferente.