Engano no berçário

Durante a gravidez, eu tinha fome de leão. Engordei uns dezenove, quase vinte quilos. Antes do término, porém, minha filha nasceu, pesando 1,700kg. Logicamente, teve que ficar na incubadora e eu só podia vê-la de longe, através da vidraça. Isso durou por volta de um mês, durante o qual eu ia três vezes por dia à Maternidade São Luiz, em S.Paulo, recém-ampliada, moderníssima.

O berçário ficava em um salão iluminado por raios de sol vindos através do telhado transparente. Diante da vitrine dos bebês, os visitantes se acomodavam em mesinhas ao lado de um bar. Tomando refrigerantes e sucos, dali namoravam as criancinhas, sempre a fazer comentários sobre esta ou aquela, mais bonitinha ou mais feinha.

Eu chegava e ali passava algum tempo em pé, a cara colada no vidro, para bem examinar minha cria. Nem reparava nas pessoas em volta. Um dia, notei que algumas senhoras lançavam-me sorrizinhos, que educadamente retribuí. Então, uma delas chegou-se mais perto e, querendo ser gentil, me disse:

_ Que bonitinhos são os bebês! Você não vê a hora de ter o seu, não é mesmo?

Forcei um sorriso que não fosse amarelo, concordando. De nada adiantaria explicar. Meu barrigão, ainda protuberante, deixava muitas dúvidas no ar...

Já pensou se eu mostrasse aquela criaturinha minúscula, que já havia saído de dentro dele?

(outubro de 2008)