Chaga à flor da calçada

São Paulo impressiona. Tudo é muito. Para o bem, ou para o mal. Uma chaga à mostra é a quantidade de pessoas estendidas pelas calçadas embaladas pelo crack, pela cola, pela cachaça, ou pela fome. Ou por tudo isso.

Alguns dormem com a cabeça dentro de caixas de papelão, ou enrolados em trapos. E a população caminha por entre os corpos como se fossem invisíveis. Fico chocada! Será que perdemos a capacidade de nos indignar? Pergunto-me. Será que o esforço hercúleo para manter a própria vida nos entorpeceu a alma? Ou será que o costume tomou conta de nós como àquela mesinha de canto que temos em casa e que já nem reparamos mais nela.

Passa a ser invisível aos olhos. Talvez a indiferença esteja entre as atitudes humanas como a mais desumana. Fingir que não vê o que vê para não agir, para não sentir, para não sofrer. E coisificamos o outro no seu infortúnio. Como se ele está assim por opção. Porque é vagabundo, preguiçoso, ou doente. Será? Será que elas não dependem da indignação, do comprometimento e da responsabilidade de todos? Para pensar.