Eu, Zé Brasil
Dos símiles, o Presidente do STF recebia ato de desagravo. E eu assistia na TV. E então chegou Carlão, como chega por nada, meio que pisando firme, pisando leve, mão de gato a deslizar-me às costas... Na voz um quê de selvagem no cio.
Cuspiu a um lado, passou a palma da mão na boca, limpou-a na calça, à altura da coxa grossa, peluda... Olhou para todos os lados, perguntou-me o que fazia e se estava só, enquanto aliviava a farra que a micose lhe fazia à virilha.
Perguntei se queria pomada; respondeu que não era coceira, era outra coisa! Uma coisa que lhe percoria quente dos pés à cabeça.
Queimando-me as vias respiratórias, o forte odor de esmegma entrava e saía num a bem entender.
À não menosprezar, dei uma olhadinha obliqua e rápida. A mão dele cheia de genitália avolumada, pulsante, atrevida; ameaçava saltar fora! E ele ia me caçando, me hipnotizando com um olhar molhado, pesado, de peixe morto, como que de fogo!
"Ai, Carlão, pare!", quase falei. E quando nossos olhos se cruzavam ele me arrastava à mão que amassava o sexo, o conjunto inteiro, as imediações, até o umbigo!
O silêncio atordoante, meu sangue a ferver, o coração batendo descompassadamente... E eu a empurrar os beiços ora à esquerda, ora à direita, pregas a circundarem meus olhos densos, os ombros sem tino e meio mole a espinha dorsal.
Falei do tempo, que talvez chovesse ou fizesse sol, uma ou outra tolice, e acudiu-me uma frase de efeito, gramaticalmente fina:
- Em que pese os opositores do Presidente Gilmar, não posso crer que tenha capangas...
Atropelou-me Carlão a frase elegante! Acabara de apreendê-la, com tanto esforço e esmero no Cegalla! Disse que eu o desculpasse, mas não podia resistir-me à boca.
Droga! O Carlão tem cada uma! Chamou-me de quê? Eu bobo, sem muita convicção, ia deixando...
Arregaçou a graguilha barulhenta, sacou do pênis eretíssimo e meteu lá no fundo da minha garganta, que andava, coitada, meio inflamada! Pensei também na grana que gastei no dentista.
Mas, bobo, sem querer perder o amigo, um bom amigo até então... Doravante? Ainda nem sei, sabe? Preciso pensar para não ser injusto. Concluindo que Carlão fora abusado, acho que ameaço cortar relações! E se ele magoar-se e aceitar? Gosto tanto do Carlão...
Mas vamos ao fato.
Após longa série de bruscas estocadas, eu vencia a asfixia e permanecia vivinho da silva! Nem sabia da minha perícia neste jogo de Testadas & Umbigadas... (?!) Bem que se diz que o sertanejo é, acima de tudo, um forte!
Fui correndo ao banheiro tirar da goela algo gosmento e acre. Sacaniei o Carlão: ele pensa que engoli! Esperto, cuspi quase tudo! O que desceu foi o que não pude evitar! Ainda assim, calculando bem, dava para gerar uma nação!
Bruto é o Carlão. Isso é coisa que se faça? Por um triz não lhe apliquei um soco. Não digo um soco forte que o machucasse, mas que pelo menos lhe mostrasse certa e moderada insatisfação, santo Deus! E se eu me engasgasse ou se estragasse o bom trabalho do odonto Ibraim?
Na TV do meu país, o Ministro, um sem convicção, lia a atestação ao Presidente do STF.
Chega! Eu, Zé Brasil, preciso do pescoço para ganhar a vida dos meus. O que mais poderia eu fazer senão correr atrás do almoço, ganhar umas horas de vida para então descolar a janta? Ah... também preciso descolar os "deizão" do Carlão. Sempre me pede emprestado e nunca paga...
Leseira... Garganta ruim... Abrição de boca...