BATIZAR OU NÃO BATIZAR?

Será mesmo certo batizarmos os nossos filhos de acordo com as nossas crenças? Esse é um debate antigo e polêmico surgido há alguns anos; provavelmente da boca de algum rebelde religioso que optou por alguma crença além da que manda o povo; contudo, essa pergunta exige de cada um de nós, uma profunda reflexão, pois queremos, e isso é natural, que os nossos amados, companheiros, filhos e amigos compartilhem conosco das nossas certezas espirituais; não apenas porque queremos salvá-los do mundo, ou qualquer outro desses discursos absurdos, mas principalmente por um senso de comunidade, de pertencermos a um grupo; vontade essa que criou a civilização no começo do tempo dos homens, e isso em si só, fecharia a resposta, se não houvesse também dentro de nós, um senso de justiça e dicernimento, e me parece um tanto egoísta querermos que a criança nascida do amor, já seja inserida numa prisão religiosa sem que ao menos ela compreenda o que está ocorrendo.

Recentemente conversando com uma amiga querida, ela me disse que só foi batizada aos onze anos, pois a sua mãe queria ter certeza que fosse ela a escolher a religião, se quisesse uma. Ela, depois de crescida, acabou escolhendo ser católica inicialmente, depois partiu para a Umbanda e recentemente aderiu para uma linha mais xamânica; a qual se sente definitivamente mais acolhida; mas disse que se ela transitou pelas religiões e crenças; esse processo ocorreu naturalmente e por sua própria vontade, como deveria ser tudo na vida.

Outro amigo reclama que sempre se sentiu isolado, não construiu muito bem a sua identidade social, porque seus pais não o iniciaram em nenhuma tradição religiosa. Ele lamenta essa decisão dizendo que os pais têm a responsabilidade de inserir os seus filhos no mundo de forma efetiva, o que incluiria uma religião; cabendo ao filho ao crescer, optar se continuará ou não nessa religião, ou se terá mesmo alguma crença. Ele completa dizendo que a criança deve ser preparada para o meio social, assim como deve ser protegida, alimentada e cuidada.

Um outro conhecido argumenta usando uma base totalmente religiosa, dizendo que todas as crianças devem ser batizadas para serem salvas do pecado original; argumento esse que já o exclui de qualquer debate sério que seja construído levando em consideração o livre fluir de idéias.

A vida muda muito depressa, assim como muda as crenças e as formas de educação. As palmadas, antes aceitas até nas escolas como ferramenta educacional, já não são aceitas nem dentro de casa; assim como o ensino da religião nas escolas brasileiras (profundamente manipulado por uma única voz religiosa predominante), antes obrigatório, hoje na maioria delas, não passa de uma memória; por isso, acredito que há de chegar também um tempo, onde o respeito pela opinião de outro ser humano seja tão importante que não tenhamos escolha a não ser respeitá-la; o que inclui a educação de nossos filhos, tanto em relação a religião quanto as opções profissionais e até mesmo sexuais que possam vir a ter.

Atualmente, já não somos mais crucificados por não querermos ser a imagem e a forma de nossos pais. Se houve famílias de advogados, médicos e engenheiros no passado (bem recente); hoje já existem atores, músicos e até professores dentro desses núcleos familiares; jovens que se rebelaram contra a direção profissional familiar e optaram por um vocação ao invés de uma profissão que visa apenas o lucro ou manter um status familiar. Há inclusive famílias onde a criança é desenvolvida e não apenas criada; e talvez essa “nova” forma de educação seja mesmo um sinal que a maneira como educamos os nossos filhos esteja mudando; talvez seja o acaso, mas sinto que estamos prestando mais atenção nesses seres que nos foram emprestados por um tempo; que ao invés de projetarmos os nossos valores e crenças nessas crianças, estamos começando a encarar o ato de criar um filho como um desenvolvimento de um ser humano e assumindo a nossa responsabilidade nesse rito.

Se mudarmos o olhar em relação a essas crianças, perceberemos que por sermos pais, não somos seus donos e seu destino não nos pertence. Com isso, se torna até meio óbvio que a única educação que deveríamos dar é a educação livre, o ensinar pensar com discernimento desde cedo; o saber interpretar a vida, mostrando à criança a riqueza da diversidade humana, das crenças em diversas culturas, os pontos que essas religiões diferem e os que possuem em comum.

Se o batismo é a iniciação espiritual de muitas religiões, o amor é iniciação da própria vida; e quem ama, não doutrina seus amados, ensina.