Podres Poderes
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ Morrer e matar de fome, de raiva e de sede/ São tas vezes gestos naturais” – Caetano Veloso
Após a Primeira Guerra Mundial a humanidade presenciou a emergência de movimentos que propagavam um ideal totalitário na Europa, como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha.
Ambos se desenvolveram sobre a máxima de “A nossa doutrina é o fato”, ou seja, as pessoas deveriam ser disciplinadas a aceitar a doutrina sem questionamentos, pois eram condicionadas a propagarem um nacionalismo exacerbado no desejo de tornar suas nações fortes, grandes, poderosas e auto-suficientes.
Um poeta italiano que viveu nos tempos de Mussolini escreveu fábulas criticando severamente o regime fascista. Trata-se de Trilussa, cujo nome verdadeira era Carlo Alberto Salustri.
Seus textos, apesar de escritos no século passado, continuam atuais e servem para que possamos fazer uma reflexão a respeito das instituições que regem nosso comportamento, nossa forma de falar, vestir, pensar. Quando digo instituições, refiro-me ao Estado, à Igreja, à escola, à família, aos clubes, enfim, a um sem número de instânicas que, de uma forma ou de outra, traçam o caminho pelo qual devemos seguir. Claro está, é necessário, antes de tomar partido de qualquer situaçãoo, sabe o verdadeiro objetivo das instituições ora envolvidas e das pessoas que a representam. A regra vale somente para aqueles que pretendem ser mais do que apenas “ovelhas no rebanho conduzidas para o pasto ou para a abate”.
É importante ressaltar que em 2006 teremos eleições para deputados, governadores e presidente. O discurso política, de um modo geral, é recheado de mensagens subentendidas que o eleitor ouve, não percebe, e o seu inconsciente absorve como o ideal, o belo e verdadeiro. Antes de escolher o candidato, é necessário que o eleitor saiba realmente os recursos de manipulação para não trocar seu voto por apenas palavras, nada mais que palavras.
A seguir, transcrevo duas obras de Trilussa que servem de reflexão para todas as situações neste artigo relacionadas.
O Homem e o Lobo
Um Homem disse a um Lobo: - Se tu não fosses tão arrogante e prepotente/ ganharias a vida honestamente e terias a minha proteção/ - Prefiro a liberdade a ter patrão/ o Lobo retrucou, de resto/ Se eu fosse bom e me tornasse honesto/ me tratarias como a um cão.
A focinheira
- Sabe que sou fiel e afeiçoado/ dizia o Cão ao Homem, disposto a tudo, mesmo a ser sacrificado/ cumprindo as suas ordens/ Isto posto.
Quero falar, agora, com franqueza/ a focinheira põe-me deprimido/ por não dá-la ao Gato, que é fingido, apático e traidor por natureza?/
O Homem responde: - Mas a focinheira lembra sempre a existência de um patrão/ que te protege e, de qualquer maneira/ é quem te ampara e te garante o pão.
- Já que assim é, o dito por não dito!/ Corrige o cão. Desculpe-me a besteira/
E, desde aí, com ar convicto/ Passou a falar bem da focinheira.