Como voar sem medo
Manda a Lei, que, antes da decolagem, as aeromoças (como Drummond, não as chamo de comissárias) lembrem aos passageiros não ser permitido fumar durante o voo.
Eu era um fumante inveterado quando, num desses voos, ouvi essa advertência. Condenei a proibição, e com extrema veemência.
Querem saber por quê? Porque, nas longas e deliciosas baforadas tiradas do meu Hollywood, eu procurava diminuir o medo que tenho de voar.
Era como se o cigarro tivesse o poder de afastar as tempestades da minha rota; ou de evitar que panes traiçoeiras ocorressem em pleno voo. Era como se um frágil e nocivo cigarrinho fosse capaz de impedir a queda do meu avião.
Meu primeiro voo foi a bordo de um acanhado Doglas da Panair do Brasil, simpática empresa aérea desaparecida há algumas décadas. Um voo muito ruim e demorado, do Recife a Fortaleza.
Comecei a fumar assim que meu avião deixou o Aeroporto dos Guararapes; e só parei, quando ele iniciou o pouso, no Aeroporto Pinto Martins.
Nos voos domésticos, a depender das distâncias e da trepidações, cheguei a fumar quase um pacote de cigarro, contando, claro, com os queimados nos corredores dos aeroportos, momentos antes do embarque.
Nos voos internacionais, até um pacote e meio. O consumo aumentava quando a turbulência era braba e parecia interminável. Deixei de fumar, faz alguns anos, para não morrer de câncer.
Sem a ajuda do cigarrinho, que faço para voar sem medo? Quando não recorro ao Lexotan, rezo; rezo muito. Encho o saco dos meus santos prediletos. Enquanto afivelo o cinto de segurança, confio-lhes o meu voo.
E ainda lhes rogo, que nos momentos de perigo, não abandonem os pilotos; protejam os comissários; e guardem, com incomparável carinho, as aeromoças. Tem dado certo.
Aos passageiros que não acreditam ou dizem não acreditar em reza nem em santos, sugiro, que, na hora da aflição, lá nas alturas, peçam ao comandante da aeronave que recite estes versinhos do saudoso Manuel Bandeira, que fui buscar no seu poema Oração para aviadores: - "Santa Clara, no mau tempo,/ Sustentai/ Nossas asas./ As salva de árvores, casas/ E penedos, nossas asas/ Governai."
Antes de terminar esta crônica, que escrevo a bordo de um confortável Boeing da querida Varig - Oh! Não deixem a Varig morrer! Possuísse uma boa grana, e a compraria, imediatamente.
Antes de terminar esta crônica, redigo, apelo às companhias de aviação: por favor, depois de cortarem o cigarrinho, não insistam em proibir o uísque e a cerveja nos voos domésticos. Só refrigerante e suco, não dá.
Neste momento, sem cigarros e sem cerveja, estou sobrevoando a lagoa do Abaeté; a poucos minutos do Aeroporto de Salvador. Até aqui, faço um voo maravilhoso!
Manda a Lei, que, antes da decolagem, as aeromoças (como Drummond, não as chamo de comissárias) lembrem aos passageiros não ser permitido fumar durante o voo.
Eu era um fumante inveterado quando, num desses voos, ouvi essa advertência. Condenei a proibição, e com extrema veemência.
Querem saber por quê? Porque, nas longas e deliciosas baforadas tiradas do meu Hollywood, eu procurava diminuir o medo que tenho de voar.
Era como se o cigarro tivesse o poder de afastar as tempestades da minha rota; ou de evitar que panes traiçoeiras ocorressem em pleno voo. Era como se um frágil e nocivo cigarrinho fosse capaz de impedir a queda do meu avião.
Meu primeiro voo foi a bordo de um acanhado Doglas da Panair do Brasil, simpática empresa aérea desaparecida há algumas décadas. Um voo muito ruim e demorado, do Recife a Fortaleza.
Comecei a fumar assim que meu avião deixou o Aeroporto dos Guararapes; e só parei, quando ele iniciou o pouso, no Aeroporto Pinto Martins.
Nos voos domésticos, a depender das distâncias e da trepidações, cheguei a fumar quase um pacote de cigarro, contando, claro, com os queimados nos corredores dos aeroportos, momentos antes do embarque.
Nos voos internacionais, até um pacote e meio. O consumo aumentava quando a turbulência era braba e parecia interminável. Deixei de fumar, faz alguns anos, para não morrer de câncer.
Sem a ajuda do cigarrinho, que faço para voar sem medo? Quando não recorro ao Lexotan, rezo; rezo muito. Encho o saco dos meus santos prediletos. Enquanto afivelo o cinto de segurança, confio-lhes o meu voo.
E ainda lhes rogo, que nos momentos de perigo, não abandonem os pilotos; protejam os comissários; e guardem, com incomparável carinho, as aeromoças. Tem dado certo.
Aos passageiros que não acreditam ou dizem não acreditar em reza nem em santos, sugiro, que, na hora da aflição, lá nas alturas, peçam ao comandante da aeronave que recite estes versinhos do saudoso Manuel Bandeira, que fui buscar no seu poema Oração para aviadores: - "Santa Clara, no mau tempo,/ Sustentai/ Nossas asas./ As salva de árvores, casas/ E penedos, nossas asas/ Governai."
Antes de terminar esta crônica, que escrevo a bordo de um confortável Boeing da querida Varig - Oh! Não deixem a Varig morrer! Possuísse uma boa grana, e a compraria, imediatamente.
Antes de terminar esta crônica, redigo, apelo às companhias de aviação: por favor, depois de cortarem o cigarrinho, não insistam em proibir o uísque e a cerveja nos voos domésticos. Só refrigerante e suco, não dá.
Neste momento, sem cigarros e sem cerveja, estou sobrevoando a lagoa do Abaeté; a poucos minutos do Aeroporto de Salvador. Até aqui, faço um voo maravilhoso!