O SILÊNCIO

“A fala é a civilização em si.

A palavra mesmo a mais

contraditória palavra, preserva

o contato – é o silêncio que

isola.” ( Thomas Mann)

Não . Não é a canção “Il silenzio” saída do golden trumpet de Nini Rosso, nem tampouco de uma outra canção que diz: “silêncio no dia/ silêncio na noite / está tudo calmo /a cidade dorme , que me servirão de tema para esta crônica, falarei sobre o silêncio que me aflige e...

O silêncio que me aflige, eu diria, parafraseando William Hazlitt, é O que me ofende mais do que a minha impertinência.

A impertinência é minha, o silêncio não. A impertinência é fruto do meu desejo de conhecer as sensações de quem se faz silencioso. É querer saber se nesse silêncio não está em questão o precioso valor da palavra. É o querer entender e aceitar o limite entre o Eu e o Outro, pois conforme explica o psicanalista Elcio Mascarenhas, nas relações que se estabelecem também e se deixam aparecer os distanciamentos e os vazios, os lugares onde as palavras faltam, a ausência do contato. Nestes momentos percebidos quando todas as coisas se calam no mundo exterior e ainda não se apercebeu dos outros sons, quando algo se interrompe deixando em seu lugar um vazio contido na experiência de perda dos referenciais, é neste nada percebido que se toma como um ponto de mutação, um ponto precisamente marcado pelo silêncio nos campos do tempo e do espaço.

Também sou levada pelo dilema kafikiano e me perco sem saber ao certo se sou Eu o silêncio do Outro, se vivo num “mundo de imagens projetadas no espaço abstrato do pensamento” e o Outro é apenas produto da minha imaginação. Simplesmente não existe.

E, como não sei traduzir o silêncio, deixo a palavra final com o poeta Fernando Pessoa mestre em criar e traduzir silêncios , segundo o psicanalista citado..

" O mistério das cousas? Sei lá o que é o mistério!

O único mistério é haver quem pense no mistério.

Quem está ao sol e fecha os olhos,

Começa a não saber o que é o sol

E a pensar muitas coisas cheias de calor.

Mas abre os olhos e vê o sol,

E já não pode pensar em nada,

Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos

De todos os filósofos e de todos os poetas.

A luz do sol não sabe o que faz

E por isso não erra e é comum e boa."

Autor citado:

Elcio Mascarenhas, psicanalista,(A Importância do Silêncio) de cuja obra me baseei para elaborar este texto.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 25/08/2009
Reeditado em 25/08/2009
Código do texto: T1773043
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