A solidão encontrada
A solidão encontrada
Belvedere Bruno
Estava só, apenas com seus pensamentos. Deitada na cama, relutava em ler algum entre aquele amontoado de livros. Não sentia vontade de assistir aos lançamentos cinematográficos, cuja programação havia sido entregue pela videolocadora do bairro. Guardara também todos os CDs. Havia silêncio a seu redor, algo denso, embora o sol entrasse convidativo através de sua janela. Para ela, naquele momento, o mais coerente era manter o cobertor sobre seu corpo. E fechar a janela.
Suas lágrimas estavam gastas por perdas sucessivas na vida. As conquistas atuais pareciam fogos de artifício, que logo se perderiam. Pensava também em rasgar fotos, que não diziam nada, a não ser lembrar ficções.
Sentia que não cabia mais perguntar ao destino, aos céus, ou a Deus: "Serei, para sempre, uma mulher só?" O hoje era o seu amanhã, e a constatação de que estava sozinha, de que esse era o seu contexto na vida, fazia com que permanecesse debaixo do cobertor. Era, definitivamente, uma mulher só. Aquela comprovação doía, mas nunca temera verdades.
Trancou seu coração de forma que, a partir daquele momento, esperasse apenas a despedida de si mesma.