O poder da criatividade

Não sei por que, hoje acordei pensando em papilas gustativas. Sim, papilas gustativas, aquelas que ficam na língua. Deus inventou coisa melhor que papilas gustativas? Existe algo melhor do que vir da rua, cheio de sede, abrir a geladeira, tomar uma limonada, botar as tais papilas para funcionar e ser prazerosamente atingido por aquilo de mais simples que as sensações podem oferecer? Deus não é realmente criativo?

Deus inventou o homem. O homem é criativo, capaz de inventar muitas outras coisas também (claro que nada se compara às papilas gustativas). Inventou a roda, o carro, o avião, micro-ondas, celular, feriado (ah, isso não, o feriado também foi criado por Deus, no sétimo dia da criação, conforme no livro do Gênesis), a dança, a poesia, o pistache (aliás, o pistache é algo que se fabrica ou se colhe?). Criou a angústia, o desespero, os ansiolíticos. Curiosamente, antes de inventar a arma, o homem inventou o homicídio. Cá entre nós, o homicídio não parece ser uma de suas invenções mais sensatas, afinal, para quê matar uma pessoa que vai morrer de qualquer jeito?

A criatividade sempre foi uma ferramenta essencial quando o assunto é andar para frente; avançar no tempo (tai outra invenção nossa: o tempo e a falta dele). Com a criatividade fizemos grandes descobertas e elas custaram sangue, suor e lágrimas – que nem no discurso de Churchil. Inexoravelmente o ponto de partida é o mesmo de chegada, a máquina do mundo gira por causa das perguntas cujas respostas nem sempre podem ser agradáveis. Pontes, prédios, cidades, estações espaciais e ainda assim se pergunta sobre a realidade fundamental do mundo. Quem é que pode saber disso? Uso meu mp4, ele toca música e daí? Vou ao “shopping”, faço compras, assisto à televisão, converso pelo meu celular e não me interesso minimamente pelo que faço. Inventos como esses e tantos outros, postos no mundo por causa de nossa criatividade, se fazem necessários para responder determinadas perguntas. Só que haja criatividade! Ainda não resolvemos os problemas que surgiram quando se tentava resolver outros problemas e mesmo assim continuamos a inventá-los. Criatividade mesmo é quando pensamos que o fundamental ainda é se espantar; é ainda ter o instinto necessário para se perguntar sabiamente – como faziam os antigos. Se a resposta irá vir, aí já serão outros quinhentos! Ai, ai, ai, não gosto de pensar nisso tudo, começa me dar a idéia de que posso ser apenas o pensamento de alguém; de que não tenho sequer certeza de que aqui estou, escrevendo isto para vocês. Nestas horas bate depressão, desespero, ignorância e até sede. Falando em sede, vocês ainda lembram da história das papilas gustativas? Alguém aí aceita uma limonada?

Thomaz Ribeiro
Enviado por Thomaz Ribeiro em 24/08/2009
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