AMIGO É PRA ESTAS COISAS

Era uma noite quente de verão. Eu estava teclando com a porta aberta e minha mulher, que está na varanda olhando para a rua, veio pra dentro de casa e comentou:

- A Emília está de novo na esquina esperando o vizinho dela passar de carro para pegá-la. Será que o marido dela é retardado e não percebe?

E, realmente, neste caso se aplicava a máxima “o corno é sempre o último a saber”. Toda a rua já comentava sobre as escapadas dela com o Agnaldo pro motel. E isto acontecia todos os dias. Todos aguardavam o desfecho do caso.

A Emília era uma loura dotava de nádegas abundantes, e sempre andava de bermuda curta, rebolando, deixando a rapaziada do bar do Luís maluca.. A cara não era muito bonita, pois ela tinha uma constante expressão imbecil, além de inúmeros buracos causados por uma acne mal resolvida. Mas no geral era uma mulher boazuda, com trejeitos que acentuavam seus atributos físicos. Era casada com o João Carneiro, um rapaz trabalhador, que de vez em quando vinha tomar umas cervejas conosco.

Mas as traições aconteciam de forma tão descarada que ele não pôde não descobrir, uma vez que a viu dentro do carro do Agnaldo quando voltava do trabalho, tendo ela chegado às onze da noite, de cabelo molhado e sem calcinha. Aborrecido, ele a expulsou de casa, e ela foi morar com a mãe, enquanto João Carneiro passou a cuidar sozinho dos dois filhos do casal.

Contudo, talvez pela saudade da mulher, ou pelas súplicas dela atrás de perdão, ou pelo trabalho que dá cuidar de duas crianças dozinho, a separação dos dois durou apenas dois meses. Logo nós, os freqüentadores do bar do seu Luís, voltávamos a ser brindados pela constantes passagens da rebolante Emília a caminho do verdureiro.

Todos os detalhes deste caso me foram passados pelo Cao, um vizinho fofoqueiro de João e Emília que todos os dias nos contava sobre as brigas dele. Emília justificou as traições pelo falo de o marido sair com os amigos e deixar ela sozinha em casa. Afinal, ela também era um ser humano e também precisava de diversão, poxa!

Bom, o fato é que todos as noites passei a ver João e Emília no bar do Perim, invariavelmente acompanhados de um outro casal – Robson e Cláudia - do qual ficaram amigos. Eu sempre passava por lá quando chegava da faculdade pra beber uma cerveja antes de dormir e constatava como eles conversavam animados, comiam tiragostos, contavam piadas e riam muito.

Às vezes as mulheres saíam pra fazer outras coisas e João e Robson continuavam a papear sozinhos. Conversavam sobre família, sobre futebol, sobre política e a vida dos outros. E todo homem quando conversa com outro, geralmente gosta de enaltecer sua vida pessoal e mostrar como é mais feliz que o outro. Assim, o Robson elogiou os atributos de Cláudia, dizendo que tirara a sorte grande de se casar com uma mulher bonita, inteligente e sexy.

Aí chegou a vez de João elogiar a Emília. A mesa já estava abarrotada de garrafas, além das muitas já pelo chão. Ambos faziam gestos típicos de embriagados,. João disse, com a voz embargada pelo álcool e entre duas tragadas no cigarro, que nenhum homem era mais feliz que ele no mundo, pois tinha dois filhos lindos e uma esposa maravilhosa.

- Sei que tem muito homem aí que cobiça a minha mulher, mas ela é louca por mim, disse pra eu não ligar pro que os outros comentassem, pois só eu posso ter acesso aquele corpo. Só eu!

O Robson ouvia as palavras do amigo com atenção, e se seus olhos começaram a sair lágrimas. Depois de não agüentar aquela conversaiada toda do João, se aproximou do amigo, pôs-lhe a mão do ombro e comentou:

- Meu amigo, não diga estas coisas. A gente sabe que a Emília não é estas coisas. Digo isto por consideração a você. Não posso deixar você ficar enganado assim. Ela está te traindo...

João ficou meio abespinhado com a observação do amigo e recuou, tirando a mão deste de seu ombro:

- E o que você sabe da Emília pra falar uma coisa assim dela? Quem mais ta comendo ela?

- Eu!

- Hã? Você? Mas você é muito gozador, né Robinho! Se não fosse meu amigo eu te dava umas porradas. Mas sei que é tudo palhaçada sua!

Neste instante apareceu Emília pra se juntar a eles. O João, que ainda estava rindo falou pra ela:

- Benhê, olha só que cara gozador. Falou pra mim que ta comendo você!

A Emília olhou de cara enraivecida para Robson e falou, sem pensar muito:

- Você tinha que contar pra ele?

Houve uma confusão dos diabos, com os homens querendo se agredir mutuamente, porém os fregueses do bar os contiveram. Robson entrou em seu carro e foi embora ouvindo impropérios da boca de João. No outro dia, envergonhado com sua situação, João desapareceu do bairro sem que ninguém soubesse do seu paradeiro. A Emília também sumiu. Dizem que ela teve mais quatro filhos com diversos homens com os quais saiu, e hoje está gorda e envelhecida. Mas continua saído na rua com seu shortinho curto.