Os instrumentos e equipamentos estavam tinindo de novos e eu estourava de alegria olhando a reluzente bateria Ludwig igualzinha à dos Beatles, enquanto preparava a minha genuína Burns ligada ao equipamento de amplificação com todos os mais up-to-date efeitos de câmara de eco similares aos usados pelos Shadows, mestres em efeitos especiais de eco que eu tanto admirava e vivia imitando!
A música que tocávamos era essencialmente dançante, com muita canção romântica italiana enfeitada por efeitos vocais, que também usávamos largamente em arranjos muito particulares nos melados slow rock com luz diminuida a que chamávamos de “música pra constituir família”, mas também virávamos as salas de ponta-cabeça com rock’n’roll de boa qualidade e, principalmente, Beatles porque afinal estávamos em Outubro de 1965!...
Vicky, o nosso guitarra suporte e vocalista, chegou para o ensaio rugindo uns sons estranhíssimos: “Tchan, tchan...tchan, tchan, tchan...tchan tchan, tchan ,tchan......”. Ligou seu instrumento e passou as mesmas notas na guitarra, até que começou a cantar: “I can get noooooooooooo, satisfactiooooonnn!”, que repetiu ad nauseam até me deixar realmente agoniado!
Eram os Rolling Stones me atropelando e, dizendo que os Beatles já eram, o Vicky forçou-nos a ensair o número em que realmente eu jamais encontrei satisfação...
Nunca comprei um só disco dos Stones, que envelheceram podres de ricos e famosos enquanto eu envelheci um saudosista pobretão e careta...
(Do meu arquivo)