BOM DIA

Chegou de mansinho de noite e não pronunciou uma só palavra.

Puxou um cigarro e olhou à mesa a frente.

Se pensou em pedir uma bebida, desistiu.

E saiu como chegara, de mansinho sem ser notado.

Era assim como são os boêmios.

Saudosos e apaixonados lamentam o amor não esquecido.

Se dão a pensamentos e devaneios que sobejam lágrimas.

E rimas que se casam como queriam um dia seus autores.

Os rumores que desfilam como bailarinas no Teatro Municipal.

Buscam platéias sem o pagamento do ingresso.

Do regresso que esperam as amantes seus amados homens.

O que podem e pedem seus filhos deixados no cais a partida.

Esperam os retornados do Tejo partido.

No píer a nau de velas cerradas.

Movidas serão pelo Zéfiro.

Ao ébrio o último gole.

Ao poeta o último verso.

Ao músico a última e mais límpida nota.

A criança infância.

E então verão a aurora.

A lua cedendo ao Sol à majestade.

O pássaro que canta ao ninho retorna.

E traz no bico o alimento tão esperado.

Coitado aquele que não viu essas coisas.

Tão simples e notáveis.

As coisas da vida que pulsa e se refaz dia-a-dia.

Bom dia.

silvio lima
Enviado por silvio lima em 23/08/2009
Código do texto: T1769244
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