BOM DIA
Chegou de mansinho de noite e não pronunciou uma só palavra.
Puxou um cigarro e olhou à mesa a frente.
Se pensou em pedir uma bebida, desistiu.
E saiu como chegara, de mansinho sem ser notado.
Era assim como são os boêmios.
Saudosos e apaixonados lamentam o amor não esquecido.
Se dão a pensamentos e devaneios que sobejam lágrimas.
E rimas que se casam como queriam um dia seus autores.
Os rumores que desfilam como bailarinas no Teatro Municipal.
Buscam platéias sem o pagamento do ingresso.
Do regresso que esperam as amantes seus amados homens.
O que podem e pedem seus filhos deixados no cais a partida.
Esperam os retornados do Tejo partido.
No píer a nau de velas cerradas.
Movidas serão pelo Zéfiro.
Ao ébrio o último gole.
Ao poeta o último verso.
Ao músico a última e mais límpida nota.
A criança infância.
E então verão a aurora.
A lua cedendo ao Sol à majestade.
O pássaro que canta ao ninho retorna.
E traz no bico o alimento tão esperado.
Coitado aquele que não viu essas coisas.
Tão simples e notáveis.
As coisas da vida que pulsa e se refaz dia-a-dia.
Bom dia.