AEDO CIBERNÉTICO* - DE FRENTE PRO CRIME

O ônibus seguia naquela desembestada fúria que é habitual e os passageiros naquela indiferença habitual também. Ninguém mais liga a não ser em seu olhar perdido na falta de horizonte; a não ser os ouvidos no seu mp3, mp4, esses sonzinhos de espantar tédio que carregamos por aí em vez de um papo com alguém que encurte a viagem; a não ser também se houver uma batida. Aí lembram do motorista.

Pois foi passando exatamente em frente ao corpo de bombeiros que alguém avistou um corpo civil estendido no chão. Mais de uma voz ao mesmo tempo gritou: - Olha lá, tem um homem morto ali! O outro coro, nervoso, já vociferava com o habitual mau humor: - Essas brincadeiras de 1º de abril não pegam mais, não! Mas era de verdade. O corpo estava lá, para a habitual observação indiferente de quem passava. Tem uma ação coletiva e disputada, que não é de mentira. A de chamar o resgate. 192, 193 e está cumprida a nossa cidadania de pedra. Todos querem ser o primeiro. Mas o corpo continua lá, frio, no 1º de abril e nos outros dias da verdade dura. Com pressa, foi cada um pro seu lado.

DE FRENTRE PRO CRIME (JOAO BOSCO E ALDIR BLANC)

Tá lá o corpo

Estendido no chão

Em vez de rosto uma foto

De um gol

Em vez de reza

Uma praga de alguém

E um silêncio

Servindo de amém...

O bar mais perto

Depressa lotou

Malandro junto

Com trabalhador

Um homem subiu

Na mesa do bar

E fez discurso

Prá vereador...

Veio o camelô

Vender!

Anel, cordão

Perfume barato

Baiana

Prá fazer

Pastel

E um bom churrasco

De gato

Quatro horas da manhã

Baixou o santo

Na porta bandeira

E a moçada resolveu

Parar, e então...

Tá lá o corpo

Estendido no chão

Em vez de rosto uma foto

De um gol

Em vez de reza

Uma praga de alguém

E um silêncio

Servindo de amém...

Sem pressa foi cada um

Pro seu lado

Pensando numa mulher

Ou no time

Olhei o corpo no chão

E fechei

Minha janela

De frente pro crime...

Veio o camelô

Vender!

Anel, cordão

Perfume barato

Baiana

Prá fazer

Pastel

E um bom churrasco

De gato

Quatro horas da manhã

Baixou o santo

Na porta bandeira

E a moçada resolveu

Parar, e então...

Tá lá o corpo

Estendido no chão...

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 22/08/2009
Código do texto: T1767497