CHEIRINHO DE TERRA MOLHADA

Fazia muito tempo que não dava o ar de sua graça, mas enfim veio matar a saudade de quem tanto sente sua falta. Desta vez ela veio de fininho: leves gotas de água que pareciam mais acariciar lentamente a superfície e receber dela um grandioso beijo de boas vindas.

Chamamos ao nosso planeta de Terra, embora há quem diga que deveria ser chamado de “Planeta Água”. Mas existe união mais grandiosa e esplêndida quanto a água e a terra? Se existe não me dei ao trabalho de buscar na mente.

Não fiz nenhum esforço ou movimento pra me livrar dela: deixei que tocasse meus ombros e cabelos, fechei os olhos, abri lentamente os braços enquanto respirava aquele cheirinho de terra molhada, que me fez sentir diversas e prazerosas emoções: era o perfume das brincadeiras debaixo dos temporais das primeiras águas dos invernos infantís; era o aroma dos beijos adolescentes debaixo dOs manguezais que nos protegiam, mais ou menos, das nuvens cadentes; era o gosto mais real dos tempos quase distantes em que pra se divertir bastava brincar de guerra de lama com os primos e os meninos do bairro.

A chuva me abandonou muito depressa e quase surrateira, não fosse por um detalhe compensador: ela me deixou de presente cada um daqueles minúsculos instantes de felicidade que estavam dissolvidos na mente, momentos que virão me aconchegar várias vezes até pelo menos amanhã, ou enquanto a terra estiver banhada pelos pingos de chuva e na pior das hipóteses: quando ela voltar...

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Vagner Silva
Enviado por Vagner Silva em 21/08/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1766907
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