Diga trinta e três...
Diga trinta e três. "Trinta e três". A mão treme no tórax do paciente.
"Trinta e três", pensei. "Jesus foi crucificado com...". Há muitos anos somos, os médicos, crucificados. Sem reajustes justos nas consultas e procedimentos. Escravos de "planos de saúde" ("saúde" teria outro sentido?).
Trinta e três reais... "Diga trinta e três reais", deveríamos pedir. É o que o melhor "plano de saúde" paga por consulta, bruto. Enquanto isso, embrutecemos.
Cabeleireiros e encanadores, com todo o respeito, apenas exemplos dentre tantos, sem os dez anos de estudo necessários para o médico especialista, cobram mais por suas respectivas "consultas", sem o "peso" inerente do trabalho médico. Ah!, e sem "reconsultas"...
Custos aumentam, impostos avalancham, gastos, gastos... Enquanto isso, desgastamos.
Parece chororo, diante da miséria tanta alhures, e talvez seja...
Consulta rápida, muitos exames para atenuar atendimentos pífios. Quem perde somos nós, todos os médicos e pacientes... Enquanto isso, seguimos pacientes.
Onde vamos parar neste descaminho?
Mundo estranho este que valoriza as tolices, o prazer fugaz, o supérfluo, os pedaços de pano ou de couro (caríssimos!), os metais...
Quem determina o valor das coisas? Somos nós! Pagamos pequenas fortunas (centenas de consultas...) por coisas que "outros" dizem ter um dado valor. Que absurdo! E quem determina o valor do trabalho, das pessoas? Nós mesmos! Que choramingamos para pagar médico, saúde, alimento básico, a educação de nossos filhos (dever do Estado?)... E não achamos anormal que "políticos", "artistas" e "desportitas" recebam milhares de moedas por seus atos. Não estou dizendo que devam "ganhar mal"... O que devemos é atentar e valorizar o labor essencial, quem faz o básico, sem o qual o "prazer" seria dificílimo ou mesmo impossível.
Abram os olhos! Retornemos ao basal, ao sólido, ao coerente... Sem perder (ou perder-se nos) prazeres, boas "fugas", enlevo artístico.
Se quisermos alcançar o céu, devemos aprender a ajoelhar, sim... Porém sem submissões tolas, sejam quais forem.
E viva a vida consciente!