TRÊS MULHERES






O carro, finalmente, subiu o pequeno trecho de serra. A casa não demoraria a surgir. O portão e os muros guardavam o que me esperava naquela tarde ensolarada, sem nenhum traço de nuvem a pincelar o céu. O azul sem retoque refletia uma pureza que me fez imaginar a paz com a mesma cor.


A menina em seu alegre vestido caipira, sorriso aberto e olhar maroto abriu seus braços e me acolheu. Começava assim, um dia para sempre...


Mulheres costumam mostrar sua força desde cedo e minha pequena anfitriã traz em seus gestos a marca de quem veio ao mundo para vencer e ser mais. Ir além. Quem a vê com os olhos da alma enxerga claro: ela irá! E que seja um caminho digno da sua vontade porque ela sabe o que deseja sorver a cada passo.


Outra mulher – jovem por natureza - e por isso mesmo, ainda mais encantadora, se aproxima. Ela conserva a fibra de quem veio de longe e entendeu que o divisor de águas de sua vida, não estava apenas no oceano entre os continentes, mas nos desafios que sua estrada oferecia. Uma guerreira de palavras sábias, sem rodeios. Direta e amorosa parece se alimentar da força de sua generosidade.


Mais adiante, ela chega. Quantas escolhas moldam uma pessoa? Qual o segredo da nobreza do caráter? Onde a dignidade encontra sua mais completa tradução? Quem estivesse ali descobriria as respostas naquela alma feminina.


Três mulheres em três tempos de espírito e jornada. Com as três aprendo que tudo se constrói tal qual a parede que uma delas mostra. Tijolo com tijolo formam um mosaico sólido. Ali, as etapas da vida foram erguidas com o cimento da luta. A magia estava na descoberta de que nada era mágico. O esforço caminhava ao lado da conquista.


Todas as lutas que valem a pena cobram um preço alto. Momentos como aquele sinalizam uma espécie de oásis ou refúgio. Um recanto para guardar a vida em cada detalhe. No entanto, nada disso teria sentido sem devoção. E era preciso erguer a construção do agradecimento: uma capela no imenso jardim.


A porta aberta era um convite. Olhei para a imagem de Santo Antônio. No dia seguinte seria aniversário de meu pai. Pensei na saudade de casa. E na saudade irreversível que sinto dele. Meu coração estava cheio de esperança e certeza. O ar da capela havia se enlaçado às minhas lembranças. Um presente de três mulheres.





(*)
Imagem: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 21/08/2009
Reeditado em 21/08/2009
Código do texto: T1766616
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