A Morte e uma Família

... Marta calou seu suspiro, assustando a todos que a observava.

__ Meu Deus não. Atirou-se aos prantos no chão uma senhora pálida, de semblante triste e sofredor.

__ Calma comadre, Deus vai te dar força, Ele vai te dar força... Esta por sua vez a puxou pelos braços e gritou:__ Não quero força, quero minha menina, minha menina comadre, eu não mereço isso, ela não precisava ir agora.

Os presentes naquela sala sentiram quase a mesma dor e choravam juntos à mãe da garota. No terreiro ainda tinha quem comentasse: __ Coitadinha, só tinha oito anos, muito criança ainda.

No canto da sala também observavam e comentavam de Rosinha, a qual sem deixar que rolasse na face uma lágrima sequer dos seus olhos, arrastou-se, arrastou-se e chegou próximo a garota desfalecida e ao seu ouvido falou: __ Levanta Tinha, levanta dessa cama. Você falou que hoje a gente ia fazer bonequinha de sabugo de milho... Esperou por um segundo uma reação da falecida e continuou: __ Você disse que agente ia brincar também, lembra...?

Neste instante uma mulher gorda chegou perto da menina e falou: __ Vai à roça Rosinha e chama seu pai aqui.

Rosinha virou-se e falou baixinho: __ Não vou falar com painho, eu vou ficar aqui, Marta daqui a pouco acorda e agente vai juntas, ta bom, agente chama painho juntas e ainda ajuda com o milho.

A mulher a puxou devagar pelo braço e disse: __ Marta agora está com Deus, vá chamar seu pai Rosinha...

Rosinha caiu sobre a irmã, soltou um choro alto e a chamou: __Marta Levanta daí, mainha ta chorando, levanta Marta, vamos ao encontro de painho, ele já ta vindo da roça, acorda...

Dona Lurdes a esta altura já estava desmaiada, sem forças, morta de tanta dor no peito, tanto dissabor.

Momento mais tarde pára à porta um homem magro, camisa aberta, suado e então grita: __ Lurdes, cadê Marta, cadê minha menininha Lurdes. O sofrimento do pai foi de cortar o coração. Seu Antonio havia saído de casa às 05:00 horas da manhã. Na roça começava o trabalho cedo, antes mesmo do sol sair. Então lembrou que Marta naquela manhã acordara com uma forte dor na barriga: __ Painho, minha barriga ta doendo painho...

__ Painho tá indo pra o trabalho Marta, vá pra rede que mainha daqui a pouco leva um chazinho.... E antes mesmo de Marta tomar o chá, o pai se dirigiu à rede e num beijo que era de despedida falou: __ Painho te ama, à tardinha volto e a barriguinha já vai ta boa ta?

Foi neste momento que Rosinha, frágil menina, completando os seus sete anos, chegou perto do pai e lhe perguntou: __ Painho traz muitos, muitos sabugos de milho pra me e Martinha?

__ Trago sim Rosinha, muitos sabugos.

__ Matinha disse que é pra fazer um presente de aniversário painho...

Ouvindo a irmã, Marta deu um riso tímido, levantou a cabeça e disse: __ Agente vai fazer um monte de boneca né Rosinha...!

__ E você faz uma boneca grandona pra mim? Rosinha interrogou e beijou a irmã.

O pai participando daquela conversa infantil sentiu-se um pouco mais animado: __ Pois cuide de ficar boa mocinha, e quando chegar de tardezinha quero as duas me esperando ta?

__ Tá painho. As meninas falaram como num coro e o pai as beijou e se despediu. Despediu-se de Marta para sempre.

Da morte da menina se sabe pouco, fala-se de infecção intestinal, mas o certo é que seu Antonio nunca mais voltou para roça, uma semana após o acontecido mudou-se para cidade e junto a filha e a esposa começou a confeccionar bonecas, e a sobreviver do seu trabalho artesanal.

zilma lopes
Enviado por zilma lopes em 21/08/2009
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