O Pacto da Rosa

Certo dia, uma das rosas mais belas daquele jardim decidiu - sem querer assustar o jardineiro, mas quase o matando de susto - falar com aquela pessoa que, todos os dias, sem descanso semanal ou feriado, lhe dava todo cuidado necessário para que ela tivesse vida, vida plena e fosse bela.

- Bom dia! - falou a rosa - hoje quero te agradecer por tudo quanto tens feito por mim, que sou linda, mas especialmente pelo que tens feito por minhas irmãs que não são tão lindas, algumas até são feias, mas tu não as discriminas e a elas dás todo carinho.

Refeito do susto, o jardineiro, emocionado, respondeu:

- Bom dia, rainha do meu jardim, que enorme felicidade me ofereces hoje, pois sempre tratei a ti e às demais como seres realmente vivos, muitas vezes falei contigo e com as outras, mas nunca obtive uma resposta como hoje estou tendo, contentava-me com a contemplação diária da beleza que de todas se exterioriza e do perfume que todas exalam.

Parando de falar, o jardineiro tocou carinhosamente a rosa, perguntando-lhe:

- Minha rainha, por que somente agora falastes comigo, depois de tanto tempo em que somente eu conversava contigo, ou melhor, depois de tanto eu ter falado sozinho?

Sorrindo, a rosa respondeu:

- Meu bom amigo, explico-te que, em verdade, nunca falastes sozinho, sempre te respondemos, porém tu eras jovem demais para entender a nossa linguagem, mas, pelo teu coração puro, a tua alma recebia a mensagem que queríamos te oferecer, e foi assim que conseguimos te dar, em nome Daquele que a tudo e a todos criou, a força necessária para chegares até aqui, sempre cuidando de nós, sem jamais ligar para o sangue que nossos espinhos, inúmeras vezes, te provocaram.

Vendo que o jardineiro começava a chorar, a rosa lhe lançou, com a ajuda da brisa, um suave perfume e disse:

- Agora, realmente estás maduro, ontem ouvi tua família e teus amigos te cumprimentarem pelo teu aniversário, falaram a tua idade, quarenta anos, que eu já sabia, apenas confirmei, por isso consegues decifrar o nosso idioma com teus ouvidos; não falas mais sozinho.

Foi então que uma lágrima caiu, lentamente, pelo rosto sulcado do jardineiro e se depositou numa pétala da rosa que prosseguiu falando:

- De agora em diante, entenderás muitas outras mensagens da linguagem do mundo, não apenas as minhas, mas - completou orgulhosa - coube-me inaugurar esta nova fase da tua vida.

Nesse instante, o jardineiro tentou visualizar a lágrima que havia caído sobre a rosa, mas não mais conseguiu, pois ela havia sido absorvida pela pétala que a recebeu e ele, então, viu que sua lágrima agora era a própria rosa.

Com a compreensão de tudo, a rosa, para encerrar o assunto, disse:

- Não falastes, mas teu coração me disse que prosseguirás cuidando de mim, também das outras rosas e das outras flores, com isso farás com que o mundo seja enfeitado por nós, o que diminuirá as mazelas da existência humana. Por isso - concluiu a rosa em tom enfático - faço agora um pacto contigo: durante o resto dos teus dias nossas vidas serão uma, mas quando te fores deixarás um rastro de flores e nós, todas, de descendência à descendência, sempre adornaremos o teu jazigo.