EU E SANTO AGOSTINHO
“Senti e experimentei não ser para admirar
Que o pão, tão saboroso ao paladar saudável
Seja enjoativo ao paladar do enfermo, e que
A luz, amável aos olhos límpidos, seja
Odiosa aos olhos doentes.” (S. Agostinho)
Confesso, que Santo Agostinho e eu temos cá as nossas afinidades. Gosto dele, está sempre disposto a conversar comigo, só que às vezes ele extrapola nos argumentos tentado me converter, ai eu digo: calma Agostinho, ainda não chegou a hora, mais “torto” do que eu você foi e hoje pousa de santidade; quem sabe, um dia, também vire “Santa Zélia” e a turma cá de baixo me faça promessas, boazinha como eu sou, atenderei a todos e nem precisa acender velas, é só bater um fio direto.
Outro dia a gente estava conversando sobre temas diversos, então ele me contou, sobre um amigo de infância que perdeu no tempo em que ele não acreditava em Deus. Disse-me ele que tinha um amigo e que a amizade entre os dois era sumamente doce, aquecida ao calor de idênticos propósitos. Acontece que , o amigo, que também era ateu, apanhou uma febre e ficou entre a vida e a morte e como acreditavam que ele ia morrer , resolveram batizá-lo. Mas o amigo não morreu. Agostinho falou pra ele, de forma injuriada, do batismo que ele foi submetido, mas o amigo reagiu e disse pra ele, que se quisesse continuar com a sua amizade, não censurasse o ato. Ai aconteceu o pior, o amigo teve uma recaída e morreu. Agostinho estava ausente e quando tomou conhecimento sentiu tal dor, que entenebreceu o seu coração. Tudo que via era a morte. A pátria virou exílio, a casa paterna, um estranho tormento. Confessa Agostinho, que tudo que falava, sem o amigo convertia-se em enorme martírio. E que seus olhos o procurava por toda parte. Tudo lhe aborrecia. Interrogada a sua alma por que andava triste e se perturbava tanto, resposta nenhuma recebia. Enfim, mandaram-no “esperar em Deus”. Mas, como obedecer a tal, pois o homem que perdera era mais verdadeiro e melhor que o fantasma em que lhe mandavam ter esperança. Só o choro lhe era doce. Só ele sucedera ao seu amigo nas delicias da alma.
PS: Mais tarde, contou-me Agostinho, que o tempo passou e aliviou a sua ferida e ele compreendeu o motivo por que o choro é doce aos desgraçados. Entendia agora, que chorava não tanto pela morte do amigo, mas sim por ele, Agostinho, por se sentir infeliz e ter perdido a alegria de viver. Mas ai ele já tinha feito as pazes com Deus.