O exibicionismo e a cleptomania

O EXIBICIONISMO E A CLEPTOMANIA.

Vendo o sofrimento do Tasso, resolvi rever dois conceitos psicopatológicos de uma beleza e tragicidade cinematográfica.

O exibicionismo que tenho em mente é folhetinesco: um cara alto, bem apessoado, roupa impecável, figura de arrancar suspiros de senhoras precavidas e de adolescentes desavisadas, também. Vem subindo a avenida. Passadas ligeiras, olhar firme. De repente, num piscar, em frente ao ponto de ônibus, abre a capa e deixa à vista suas “vergonhas”. É coisa de segundos, saí em disparada feliz da vida, coração palpitante de gozo, deixando ali paradas, atônitas, duas senhoritas tampando a boca, em vez dos olhos: “o que aconteceu? ... não viu? ... que tamanho! ... ”.

A cleptomania é mais sutil. Uma jovem bonita, insinuante. Um quê no olhar. Quase um desassossego. Entra. Ela vê. Está lá. Uma certeza demoníaca apossa dela. Não há como fugir. Tem de confirmar. Sorrateiramente se aproxima. Abre sem olhar. Os dedos trêmulos vasculham à procura do precioso bem. Encontra. Agarra-o com frenesi. E vai-se embora, o coração palpitando de prazer.

Uma ligação, as duas situações dão prazer. Mais tecnicamente, o ato de se mostrar e de furtar dão, além do prazer, um alívio ao desprazer indescritível, a uma sensação quase louca de estar mutilado, faltando algo em si, arrebatado por um capricho do destino, do que propriamente prazer. Por isso precisa do espanto das mulheres para confirmar a presença da falta, numa exibição cinematográfica. Os dedos trementes asseguram a posse de tesouro perdido. Não. Não é a bijuteria. É algo que não se sabe dizer o nome. E por não realizar desejo irrealizável, continua-se a procurar, a roubar, a se exibir compulsivamente.

Os casos ilustram “doenças da alma”, como o Ademir, o Tasso e seus colegas. É um impulso irresistível. É incontrolável. A pessoa está doente.

No caso da cleptomania agrava-se, pois corre o risco de ser trancafiada juntamente com verdadeiros ladrões.

O exibicionista está sujeito a ficar sem aquilo que tanto presa, arrancado a facão por pai bravo ou estilhaçado pela cartucheira de marido ciumento!

É isso, essas pessoas sofrem, correm riscos inimagináveis, precisam tratamento, nunca discriminação.

João dos Santos Leite - Psicólogo CRP 04-2674

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 20/08/2009
Reeditado em 10/10/2009
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