ELES GOSTAM DE DANÇAR
Ela é mais velha que ele e cisma que a idade pesa. “Somos de galáxias diferentes”, ela tenta explicar, mas se cruzam cada vez mais no espaço dessa paixão.
O amor e os encontros, tantos desencontros. Tudo pode dar certo e tudo pode dar errado. Não basta a diferença de idade, a condição social, a raça, religião, visão política, sexos opostos, sexo de iguais, tudo pode ser uma desculpa para dar muito certo ou muito errado.
Meus amigos são assim: ela é mais velha, lourinha e mantém sua imponente responsabilidade. Ele é mulato, dez anos mais novo e um sorriso de sonhador que contagia. Acumulam entre si outras variações conflituantes, a quem está pronto para apontar incompatibilidade. Afinal, tudo poderia ser muito estranho entre eles. Mas quando eles dançam a gente percebe que vieram do mesmo planeta, porque nada em torno faz o menor sentido, a não ser o amor.
E de que importa os adornos se eles gostam de dançar?
Doce procura em construir uma vida em comum, caminhando pelos destroços do passado, acreditando que tudo pode se ruir...E se não ruir?
As pessoas são assim, cada um em sua gaveta, mas tem uma hora que as gavetas se fundem...
Se um quer os holofotes e o outro a retidão, e daí? Um precisa correr de manha cedo e o outro acordar depois do almoço. Um é romântico convicto e o outro seco como uma rocha. Enquanto um berra, o outro chora. Um quer alcançar o mundo e o outro se contenta com o essencial. Um precisa desabafar o que sente e o outro guardar.
Mas ai descobrem que gostam de comédias.
Um só entende relação se houver aliança, o outro só precisa do amor. Um quer filhos e o outro foge de crianças. Um quer casa no campo e o outro condomínio.
Eles querem terminar a noite com vinho tinto.
Os dois dizem que não ligam para dinheiro, mas isso quase sempre é o mote da separação. Um é carente e o outro foge de excessos.
Os dois são ciumentos.
Um quer saber de tudo e o outro quer esquecer o que aprendeu. Um se sente sufocado e o outro só. Um prova todas as camas e o outro só quer relembrar e chorar.
Quem de nós é igual? Quem é diferente?
Mas meus amigos dançam... Não precisam de desencontros, encontros, dúvidas. Eles não se comparam, não se medem. Esquecem que podem ter contradições, distancias, desencontros, segredos, medos. Tudo no compasso da música, até quando ela se silencia.
Na galáxia que eles vieram o que importa é o beijo e isso eles fazem muito bem.