OS NORMAIS QUE ME PERDOEM!!!







Tudo começou com um desejo emocionado de minha avó, assim que me formei na Faculdade de Psicologia Clínica:


- Espero que você tenha um futuro normal.


Ao escutar aquelas palavras, ditas com timbre de voz decidido e olhar amoroso, não consegui me conter, principalmente depois do que testemunhei em termos de saúde no Brasil. E nestas horas incertas e estranhas, nada normais, meu senso de humor costuma falar mais alto, talvez para me preservar da ausência do sentido.


Quando se lida com a dor, a questão pode escapar da normalidade por mais que desejemos transitar no espaço saudável.


E apesar de ter entendido a intenção amorosa de minha avó, confesso, não consegui evitar. E a gargalhada foi mais forte do que eu. Sonora, livre e alta. Bem alta! Até hoje não sei se tenho alguma participação involuntária na diminuição da capacidade auditiva de minha avó.


Muitos anos depois, e nada tão normal quanto ela desejaria, em uma tarde morna de outono, com direito a algumas xícaras de chá de limão, biscoitos e risos, perguntei a ela:


- A senhora ainda deseja o mesmo futuro para mim?


Minha avó respondeu sem titubear:


- "Norlam"!


Só consegui repetir:


- "Norlam"? (Ela queria dizer: "normal").


Enfim, restava, mais uma vez, gargalhar. E desde então, o insólito termo foi adotado em família.


Uma família "norlam"!






(*)
Imagem: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 20/08/2009
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T1764254
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