A Magia escondida da escrita…
Se consideramos um livro um amigo, o que dizer de certas coisas que escrevemos…?
Vem esta dúvida a propósito de eu ter redescoberto uma novela esquecida que fui escrevendo ao longo de vários anos (ideia original em princípios dos anos 90, e escrita em si em 1998, 2001 e 2004).
Trata-se da história de um homem que não consegue morrer e que dedica a sua vida de 4000 mil anos à religião para tentar perceber a sua imortalidade.
Curioso: escrevi essas linhas no auge do meu agnosticismo, e agora, católico de novo, desde 2007, fiquei espantado o quão religioso e espiritual é aquela história.
E além disso fiquei espantado o quanto mudei desde 2004: basicamente sou e serei a mesma pessoa, mas na altura escrevia duma forma quase virginal, quase se como tivesse começado a escrever, sendo que na altura já levava mais de 15 anos de escrita para jornais e afins…
Hoje estou mais adulto, um bocadinho mais cru, mais realista, embora mantendo o mesmo espírito, mas aquelas linhas estão cheias de uma portentosa ingenuidade que as tornam difíceis de ler, são tremendamente egocêntricas, e por isso tive que me dar ao trabalho de corrigir aquelas mais de 90 páginas e começar da estaca zero, tive que as tornar mais humanas, mais sensíveis, mais belas, apesar da ideia e da história me agradarem, eu mudei tanto desde 2004 que de facto se impunha uma mudança…
Na actualidade sou mais culto e utilizo uma linguagem mais diversificada, além de ter muito mais ideias.
Ao fim de 3 dias de árdua revisão fica a ideia que tenho um potencial vencedor de concursos literários em mãos, ou então uma novela a ser publicada com certa facilidade…
E a sensação de ter reencontrado aquelas linhas, foi como se tivesse viajado para trás no tempo, me tivesse reencontrado, o que ajuda a perceber as portentosas mudanças empreendidas desde 2004, a sensação que fica é de ter encontrado um irmão, uma parte de mim que pensava perdida, e que depois de uns retoques ficará ao meu gosto, ficará uma obra para vocês e não para mim, será vossa mas não minha, afinal o objectivo da minha escrita: uma tal identificação com quem lê, que a obra passa a ser nossa, porque eu posso tê-la escrito, mas são vocês que lhe dão significado ao ler essas linhas, ao gostarem delas e julgarem acertadamente que também são vossas…