O que aconteceu?
Quando era menino me ensinaram que sobre a importância de respeitar as pessoas. Naquela época se dizia que, sendo educado, se conseguia um lugar de destaque perante o mundo.
Não sabia o que era “perante”, mas “destaque” eu sabia.
Hoje, andando para lá e para cá nas ruas da minha cidade, indo para o trabalho, para a faculdade e de volta para casa, ainda procuro respeitar o espaço e os direitos das pessoas.
Engraçado como me sinto um ser de laboratório: cada vez que cedo meu lugar no ônibus, que digo um “bom dia” sorridente ou caminho por quarteirões com a lata de refrigerante vazia até encontrar uma lixeira, percebo olhares curiosos me observando.
Por quê?
Será que no dia a dia perdemos a capacidade de pensar no outro? Será tão difícil parar de olhar para nossos próprios umbigos e virar a cabeça para os lados?
Vejo na TV passeatas pedindo por um Rio mais limpo, por um Rio menos violento, por um Rio mais humano, mais isso, mais aquilo, etc. Pergunto se todos os que vão a essas passeatas (e vão vestidos a caráter) separam o seu lixo de forma seletiva, fogem de uma discussão fútil com o vizinho ou simplesmente sorriem para os outros.
Defender grandes causas é justo e bom; mas não nas pequenas coisas que mostramos a verdade de nosso ser?
Enquanto escrevo essas linhas, no metrô, entra uma velhinha e eu não me levanto, afinal não estou em assento preferencial. Será que isso elimina o fato de que ela está cansada de hoje e de todos os seus ontens?
Acabo me levantando. Ela se senta sorridente e puxa o netinho para seu colo, falando “obrigada” para mim e dizendo para o pequeno que é importante ser educado e respeitar os mais velhos.
O menino me olha e eu tento dizer-lhe com o olhar que é verdade. Mas sinto que, de algum modo, ele vê em meus olhos, bem no fundo deles, um outro garotinho que se pergunta: “Se a maioria de nós foi criada aprendendo o mesmo, o que aconteceu?”