Mulher fatal?

Sou a melhor, a mais bela das mulheres. Por que não? Todo mundo pensa que é bacana, por que eu também não posso ser?

Bonita? É... sou bonita. Alta, magra, tenho porte. E sei me vestir. Fico bem de saia justa, exploremos as saias justas. Bem curtas, isso mesmo. De decotes não gosto muito, mas também para que decotes?

Ah! os saltos, esses têm que ser bem altos... Andar leve, uma jogada de cabelos para trás... Olhar lânguido. Quando convier, é claro, senão, olhos bem abertos. Atenção para eles, que são pequenos, devem estar arregalados. Duas gotas de colírio e pronto, aquele brilho!

Minhas mãos, hum... tenho que cuidar melhor delas. Ginástica, isso mesmo, abrir e fechar os dedos. Dizem que é bom, eu vi na revista. Esmalte? Vermelho, naturalmente! Unhas compridas pedem esmalte vermelho.

Agora vamos à maquiagem. Primeiro, o creme para refrescar a pele, assim, dando tapinhas no rosto. Depois, a base e o pó compacto. Sombra para os olhos, essa dourada está bem. Rímel preto. Blush, muito blush que eu quero brilhar. Baton vermelho HI-FI, pode beijar que não sai.

Cinqüenta escovadas firmes com a cabeça para baixo, a melhor coisa para os cabelos. Vida nova pra seus cabelos. Perfume, já ia me esquecendo. Mulher cheirosa derruba qualquer um...

Gargantilha dourada, brincos de argola, pulseiras, anéis mil.

Olhou-se no espelho. Ombros levantados, um pé um pouco adiante do outro, o joelho flexionado. Uma das mãos na cintura e a outra puxando os cabelos na altura da nuca. A cabeça um tanto jogada para trás. Perfeito.

Nesse momento a porta se abre e alguém entra no quarto. Cai na gargalhada. O que é isto?!

-Manhêe! Venha ver! A Bia, em vez de estudar, está treinando pra puta!

A pior coisa do mundo é ter um irmão, sabia?