Quem é você, quem sou eu?
Adulta jovem, humana, gaúcha, virginiana, casada, chocólatra, escritora... Até alguns dias atrás, pensava eu que estas características poderiam brevemente me definir em palavras. Pois não é que eu estava redondamente enganada? Recentemente descobri que podemos ser muito mais do que ousamos imaginar. Quer saber como? Eu explico, mas aviso de antemão: Fujam enquanto há tempo, pois o hábito que eu lhes apresentarei é extremamente contagioso e viciante!
Quando eu era menina, a moda era o “questionário” (perguntas escritas em um caderno e passado de mão em mão; jogo semelhante a um senso de informações pessoais trocadas entre os amigos), depois vieram os testes de revistas femininas e agora isso: O quiz virtual! (lê-se qüiz)
Quiz, nada mais é que o nome dado àqueles testes aonde, através de uma série de perguntas e respostas, chegamos a um resultado surpreendente, como por exemplo: se “ele beija bem”, se “você é econômica” ou “que fruta você seria”. Sim, informações de “extrema relevância”. Hoje em dia, munida de um computador ligado à internet, um pouco de paciência e muita falta do que fazer, você pode descobrir tudo que não sabia sobre si mesmo, como que música, livro, animal, artista, personagem, pecado capital, cor ou “seja-lá-o-que-mais” você é ou poderia ser.
E você aí achando que sabia alguma coisa sobre si mesmo, hein? Pois é, eu também. Não sei como pude viver até hoje sem todas essas informações... Descobri que sou “o número sete, a luxúria, as Antologias Poéticas de Carlos Drummond Andrade, A bela e a fera” e mais: descobri ainda que eu não vou pegar a gripe suína (Influenza A, H1N1) — Pasmem! Abençoado seja o cidadão que criou este último quiz!
Ah, se a vida fosse assim, tão fácil, não é mesmo? Talvez exatamente pelo fato dela não o ser, é que perdemos tanto tempo buscando respostas para as mais diversas (e por vezes desnecessárias) perguntas. Passamos a vida nos questionando sobre quem somos e como as outras pessoas nos vêem. Sobre o que fizemos e o que faremos. Sobre qualquer coisa que ilumine um pouco o caminho que nos leva ao misterioso dia de amanhã. Respostas estas que certamente não estão no fantástico mundo do quiz virtual, por mais divertido que ele possa ser.
E por que será que nos parece tão mais divertido ser qualquer outra coisa senão aquilo que já somos e bem sabemos? Talvez exatamente por “bem sabermos” — o sabor da vida está no mistério — são as dúvidas que nos movem, enquanto indivíduos e sociedade. Se tivéssemos todas as respostas, não iríamos à parte alguma! E novamente sou tentada a usa a metáfora do “cachorro que persegue a roda”: O que fazer quando alcançada? Provavelmente parar de correr.
“A curiosidade é a mola propulsora do intelecto, mãe da descoberta” e razão para o sucesso destes jogos de adivinhação. Não é de hoje que profecias — verdadeiras ou falsas — fazem sucesso (Nostradamus, Walter Mercado, Mãe Dináh e o horóscopo nosso de cada dia, não me deixam mentir). Cada um de nós procura suas respostas aonde nos parece mais adequado. Alguns se voltam para a fé, outros para si mesmos e há ainda aqueles que preferem responder a toneladas de quiz. E quem somos nós para criticar?
Independente do caminho que lhe convém, mais importante que encontrar as respostas é seguir fazendo as perguntas. Por isso eu lhes deixo uma: “Se você fosse uma resposta, qual seria a sua pergunta?”
Será que isso daria um bom quiz?
*Publicada no Jornal Agora - Caderno Mulher Interativa - Ago/2009