Tinha que ser em Copacabana
Poderia um “Rola porco” ou “Cospe grosso”, mas não era., era simplesmente o bar do Alfredo. Podia ser em Vila Izabel ou no Estácio, mas não era. Antes de ser o bar do Alfredo era o bar onde o Alfredo e sua turma se encontravam os sete dias da semana, e só se encontravam ali esses sete dias porque a semana não tem oito ou dez. Eram dias sagrados, dedicados à cerveja, às piadas e à amizade. E foi a amizade e a necessidade de estarem mais tempo juntos que levou Alfredo a comprar o bar. E a cada dez ou doze dias um era escalado para abrir o bar pela manhã afim de receber a cerveja do caminhão e pagar E o bar não tinha garçom e não tinha quem servisse as mesas. Nem o Alfredo, que amarrou um caderno e uma caneta junto ao freezer e recomendava a quem quisesse beber que se servisse mas sem esquecer de anotar o pedido. No lugar do número de mesa, o nome do usuário da mesa. Vale lembrar que a turma do Alfredo tinha o privilégio de ter mesa com sete cadeiras. Coisa simples e na base da confiança. Um dia, estava a turma num animado papo, entre risadas e tins tins, quando chegou um cliente novato. Sentou-se e pediu uma cerveja,
- Desce uma bem gelada pra mim.
- Pega lá. E não esquece de anotar no caderno. Por favor.
- Estão sem garçom?
- Nunca teve e não vai ter.
- Mas sai um tira gosto no capricho, né?
- Sai nada, companheiro.
- Mas estou vendo um salame pendurado ali no canto.
- Foi um desavisado que trouxe, mas não tem quem corte.
- Tem certeza de que esse é um bar aberto ao público?
- Tenho certeza de que não é. É um bar pra reunir os amigos e como somos gentis e deixamos a porta aberta, entra quem quer.
- Então eu posso cortar o salaminho e me servir?
- Claro que pode, amigo, mas devo avisá-lo de que esse salaminho está pendurado ali desde a reinauguração do bar.
- E tem quanto tempo isso?
- Quase dois anos.
- Então está na validade.
- Se você acha, sirva-se, aproveita e corta uma porção no capricho pra nós aqui .... Mas não esquece de anotar no caderno.
Tinha que ser em Copacabana.
OS: O bar existe até hoje e é freqüentado por alguns graduados – e outros nem tanto- artistas da nossa MPB.