Sobre o plágio
Conversando com colegas recantistas, estivemos debatendo sobre o plágio, este assunto quase sempre controverso.
E chegamos à conclusão de que há as coincidências, como os temas atuais que suscitam idéias muito semelhantes em pessoas de estilos muito parecidos; há as "variações sobre o mesmo tema", inconscientes ou não, em que as pessoas abordam um assunto em comum sob diferentes pontos de vista; e há as cópias descaradas e incontestáveis, especialmente de textos que rolam na rede há anos, sendo estas, sim, exemplos acabados do mais incólume plágio, caso não seja declarada a origem. Salvo nos casos em que o sujeito está apenas exercitando uma nascente verve literária e usa este artifício como um expediente puramente pedagógico. E não vem ao caso discutir o mérito ou o demérito desta questão agora.
Mas há ainda uma outra categoria -- a das citações.
Que, aos olhos de algumas pessoas, não passa de plágio. E isso acontece em todos os ramos das artes e ofícios.
Por exemplo, há cerca de 20 anos, um gravurista brasileiro foi premiado num Salão Nacional pelos trabalhos em que citava e homenageava o Escher, cuja obra, na ocasião, andava bastante popular aqui pelo Brasil. Alguém da Embaixada da Holanda se sentiu agravado pelo fato e, pra provar que o artista em questão não passava de um rematado plagiador, numa atitude inusual e inédita, resolveu trazer para o Brasil boa parte do acervo do Museu do Escher, a fim de expô-lo nas principais capitais.
Quem lucrou com a polêmica fomos nós, fãs incondicionais do gravurista holandês há muito já falecido, que, desta forma, tivemos a oportunidade de ver ao vivo, bem de pertinho, sem precisar ir até a Europa, muitos dos originais daquelas obras que só conhecíamos através de livros e de posters -- inclusive as matrizes das xilogravuras, que pareciam ter sido cortadas a laser, de tão precisas e perfeitas que eram.
Esta exposição permaneceu por uma semana no Museu de Arte de Brasília. E não houve um único dia em que eu não tivesse ido até lá, a cada vez com um grupo diferente de amigos, pra olhar tudinho com olhos gulosos, admirados e reverentes. E, ao mesmo tempo, ficava lá com meus zíperes e velcros a pensar -- que bom que rolou essa história do plágio!... E agora, quando é que alguém vai "plagiar" o Van Gogh, o Vermeer e o Rembrandt, hein?