AS FOLHAS E OS FRUTOS

Você se lembra amor, daquela mangueira plantada antes do nascer do sol, na hora em que a terra ainda dormia?

Mal o dia clareou, de mãos dadas saímos para ver onde haveria de brotar, crescer e frutificar a sua nova árvore.

Olho pela janela o chão molhado e nada mais vejo, dela restou a mancha escura de óleo queimado, precaução para que o tronco cortado não voltasse a brotar. Devorada pelos cupins a sua mangueira ainda servia de moradia para dois valentes pica-paus.

Agora a chuva cai na calçada, inútil, fria e lembro-me de quando a terra e o sol a alimentavam para que ela gerasse lindas mangas-espada.

O muro de cinco metros da casa ao lado a proibiu de continuar verde e frondosa, mesmo assim resistiu bravamente até que você adoeceu. Quase despercebida também definhou. Dominada pelos cupins o instinto de preservação imposto pela natureza obrigou-a a lutar. Galhos novos subiram desesperados em direção ao céu à procura de luz e calor enquanto lá embaixo continuava a devastação.

Há um ditado sobre o homem realizado: deixa filhos, árvores e livros.

Na primeira estiada fui olhar o quintal. Lá estava o cajueiro viçoso que você também plantou; a laranjeira, o sapotizeiro, o jambeiro roxo que sombreia a rua e a mangueira filha da outra continua no mesmo lugar, juntinho à caixa d'água.

As árvores asseguram-me, você está aqui. As folhas e os frutos a cada instante me dizem que a vida vale muito a pena.

MCC Pazzola