O peru, o galo, a raposa e a gripe suína!
Contam-nos que o galo e o peru, pressentindo a aproximação da raposa, subiram em uma árvore onde se puseram a salvo. A raposa, no entanto, obstinada e faminta, tratou de testar a dupla. Após alguns saltos, rosnados e ataques da raposa, o galo decidiu fechar os olhos e dormir, percebendo que aquela patacada viria durar por quanto durasse sua atenção. O peru, por seu turno, não tirava os olhos da raposa!, à beira do pânico fugia de cada ataque da fera ladina, pulando de um galho para outro a fim de se manter o mais distante possível de seus dentes. Nessa altura a raposa pensou:
— Esse galo não vai ter jeito, mas o peru já está no papo!
E tratou executar as mais exuberantes proezas, saltando e rosnando desbragadamente e de maneira insana, mostrando ferozes caretas para o peru apavorado a pular de galho em galho empurrado pelo terror.
Meia hora depois, quando o galo abriu os olhos, a raposa já havia evadido o local; do peru restava somente uma enorme quantidade de penas espalhadas no chão ao redor da árvore. O galo pensou:
— Estúpida criatura, tanta trela deu ao bicho que acabou em seu papo.
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Quando a raposa voltou ao terreiro todas as galinhas estavam instruídas sobre o que fazer se atacadas pela raposa: repousar em um galho alto e esperar que a ameaça passasse.
Impotente ante tal defesa, a raposa tratou de maquinar nova tática; percorrendo todas as moitas ao redor do terreiro anunciava com voz gutural e sons fantasmagóricos a chegada de uma gripe suína, que viria ceifar todas as vidas ao redor. O galo, a princípio, riu-se da absurda ameaça, mas acabou por se preocupar com a coisa quando os contínuos alardes acabaram por deixar as galinhas à beira do pânico.
Dia após dia a raposa, disfarçada, alardeava a chegada da gripe tirando o sossego de todo o terreiro, e quando um pintinho faleceu a bordo de um avião distante ninguém teve nenhum receio de diagnosticar: morreu de gripe suína! Era a gota que faltava. Impulsionadas pelo pânico, as galinhas tiraram seus pintinhos das escolas e se dispersaram com eles pelos arredores proporcionando às raposas os mais lautos banquetes dos quais se lembram.
Com a chegada da gripe suína, e da enorme mortandade entre galinhas e pintos, chegaram também os doutores raposos e prescreveram remédios caros, importados, mas de efeito duvidoso, que deveriam ser comprados com a única verba existente: a planejada para o fortalecimento da cerca do galinheiro.
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Decorrido certo tempo as gordas raposas anunciaram suas candidaturas aos mais importantes cargos dos arredores e sabem que serão eleitas pelos remanescentes da gripe suína, pois foram elas as heroínas, as salvadoras que, desde o início, anunciaram o flagelo que estava por vir!
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A letalidade da gripe suína é equivalente à de qualquer outra gripe, ou seja, a gripe suína não passa de mais uma gripe. Acordemos para a insanidade que consiste na suspensão de aulas e outros transtornos por causa de uma gripe!
Note ainda que, no momento, o usual descaso com a saúde da população, ainda que agravado pelo deslocamento de recursos para o tratamento de gripe (atentem, repito, GRIPE!) parece estar justificado pelo alarme causado pela gripe!
ACORDEMOS!
(Se ainda tiver alguma dúvida sobre isso, pense no contra-senso que seria, um ano atrás, dedicar tamanho esforço que deveria estar concentrado em doenças mais graves ao combate da gripe.)