Os olhos do Pablo
Estava conversando com uma jovem amiga, que está se iniciando no mundo da fotografia -- digital, naturalmente --, e me encantei com o entusiasmo e empenho com que ela está fazendo isso.
Foi inevitável me lembrar, com um largo e bobo sorriso dançando no rosto, da época em que uma das minhas casas -- além da materna e da universidade --, era a oficina-casa do meu amigo Paulo.
Lá aprendi muitas coisas: sobre cores, luzes, químicas, registros, imagens e até mesmo sons, ainda que coadjuvantes e de fundo.
Entre os muitos nichos sagrados desta saudosa oficina-casa, havia o laboratório de fotografia, onde se preparava as telas de serigrafia e, claro, se revelava e copiava fotografias, como se fazia muuuuito antigamente.
Eu acompanhava, com a circunspecção e reverência de uma noviça, todo o ritual preciso que havia em cada uma destas artes, sobretudo na fotografia.
E jamais, nunca, nem se eu perder o cérebro, vou me esquecer do dia em que, ao copiar as primeiras fotos do filho do meu amigo, a primeira coisa que surgiu no papel, sob a indefectível luz vermelha e nossos olhares encantados e molhados, foram os grandes e meigos olhos do Pablo, meu afilhado.
Que já ultrapassou pai e madrinha em altura e já é um rato de oficina feito o pai, há muitos anos, mas que não perde nunca aqueles olhos doces e meigos... quem vê, nem imagina o tanto que é turrão, igual ao pai, hehehe... talvez até por isso eu goste tanto daqueles dois!
Então pensei, que pena que a foto digital eliminou esses nichos sacrossantos e essas mágicas alquimias... em compensação, naquele tempo bem que todos nós suspirávamos por alguma folga genial como essa mamata digital toda, que só existia na ficção científica. E em Hollywood, claro.
E hoje agradecemos e brincamos bastante, com aquele mesmo sorriso bobo lá do começo.