Nem tudo que reluz é ouro!
Vivemos numa época onde certos valores parecem estar distorcidos, como se as pessoas não conseguissem mais diferenciar nitidamente o certo do errado, o bem do mal, numa espécie de miopia social!
O errado se tornou tão banal que muitas vezes o incorporamos em nossa rotina como se fosse algo normal.
Durante algum tempo mantive dois empregos. Esse, que mantenho até hoje como repórter cinematográfico na madrugada paulista, e outro como cinegrafista e iluminador nos estúdios de certa denominação religiosa.
Na madrugada se vê coisas terríveis, como pais que matam as três filhos, os esquartejam e jogam seus restos no lixo. Ou um homem religioso e trabalhador que um dia, sem qualquer explicação, surta e mata a mulher e os filhos a marteladas, deixando, antes de ser morto pela polícia, um rastro de 1 Km de carros destruídos.
São histórias que marcam em nossa memória, e que chocam quem as ouve.
Um dia, após ouví- las, uma repórter da Igreja onde trabalhava me perguntou como eu conseguia trabalhar na madrugada com jornalismo polícial, se não me sentia mal fazendo aquilo.
Minha resposta foi tão espontânea que até eu fiquei surpreso com ela:
__ Pelo contrário. Sinto- me mal fazendo o que faço aquí!
A repórter calou- se!
Eu também!
Cada um seguiu seu rumo. Mas enquanto arrumava a iluminação de um dos estúdios, tentava entender por quê havia dito aquilo! Por quê me sentia daquele modo!?
Encontrei minha resposta na história do soldado nazista, que é julgado após a guerra pela execução de vários judeus, mas afirma não ter nada contra esse povo:
__ Só seguí as ordens superiores!
Mas isso o isenta de sua responsabilidade? Ele não deveria diferenciar sozinho o certo do errado?
Um soldado nazista! Era assim que me sentia trabalhando para aquela igreja que não pregava amor ao próximo, mas sim prosperidade financeira!
Apesar de seus discursos embasados na bíblia, não tinham interesse real de que o mal se extinguisse, assim como um vendedor de lenços não quer que as pessoas parem de chorar.
Claro que conhecí pessoas íntegras nos círculos mais altos dessa denominação religiosa, mas infelizmente eram minoria.
Jung diz em um de seus textos a seguinte frase:
"Quem olha para fora, sonha! Quem olha para dentro, desperta!"
Eu despertei, me demitindo daquele trabalho nos estúdios da Igreja.
A madrugada pode ter casos de pura maldade, mas ela está nítida! É fácil de não se deixar envolver, de manter distância.
Já, em outros lugares, o mal é tão sutil que, quando nos damos conta, estamos completamente envolvidos, como deve ter acontecido com muitos soldados nazistas!